Portugal aposta em hidrogênio verde 

Unidade de produção em Sines receberá um investimento de 217 milhões de euros 

Por Lina Moscoso, Lisboa.

O hidrogênio verde – hidrogênio gerado por energia renovável ou por energia de baixo carbono – é uma aposta de Portugal para garantir a autonomia energética, uma fonte de energia limpa tanto para gerar calor, como para produzir eletricidade. A guerra na Ucrânia e o problema da autonomia energética da Europa funcionaram como um impulso para a introdução gradual do hidrogênio verde enquanto estratégia de obtenção de energia. Esse processo faz parte das metas para a descarbonização da economia. 

Segundo Arlete Apolinário, investigadora do Instituto de Física dos Materiais da Universidade do Porto (IFIMUP), os países iniciaram apostas no hidrogênio verde, mas depois tornou-se uma urgência a utilização de fontes limpas para produção de energia. “Portanto, os países com mais voz, como a Alemanha e a França, começaram a ver que é realmente preocupante a queima dos combustíveis fósseis para a produção de energia. E a estratégia do hidrogênio é ser verde porque o hidrogênio já entra muito na indústria pesada. Já é muito usado, só que é sintetizado via modo não verde, através do gás natural. O hidrogênio verde é conseguir obter a fabricação do hidrogênio através de uma energia renovável”, pontua. 

Está previsto para 2024 um investimento de 217 milhões de euros, através do qual a Galp – grupo de empresas portuguesas no setor de energia – vai criar na sua refinaria em Sines (cidade portuguesa localizada na região do Alentejo), uma unidade de produção de hidrogênio verde com uma potência de eletrólise de 100 megawatts (MW). Essa refinaria já trabalha com o hidrogênio, mas na sua forma “cinzenta” (a partir de gás natural), a mais comum. Mas, a partir de 2024, a refinaria vai investir em hidrogênio verde (obtido por via da eletrólise da água, com eletricidade de origem renovável) uma forma de descarbonizar parte do processo de produção de combustíveis.

Portugal aprovou em Conselho de Ministros, em 2020, o Plano Nacional do Hidrogênio que prevê que até 2030 o hidrogênio represente de 2% a 5% do consumo de energia na indústria, de 1 a 5% no consumo de transportes rodoviários, de 3 a 5% no transporte marítimo doméstico e de 1,5% a 2% no consumo final de energia. Para isso, está prevista a criação de 50 a 100 postos de abastecimento de hidrogênio no país.

No entanto, trata-se de um processo caro porque a ideia é comprar os eletrolisadores e colocá-los em água, que consiste em dois eletrodos aplicados a uma fonte energética e consegue-se separar a água em hidrogênio e oxigênio. “A eletrólise da água tem um custo energético porque eu preciso aplicar aquele mínimo energético para separar o hidrogênio e o oxigênio. Aí é que entra um bocadinho também a polêmica, que é o custo que é bastante alto. Só que a estratégia do verde é: se eu acoplar uma eólica, um painel solar a este curso energético, então ele é verde, ele vem de uma fonte abundante”, explica. 

Para viabilizar a produção de hidrogênio verde sem depender das fontes de energia como os painéis solares, a Universidade do Porto desenvolve células fotoeletroquímicas em que um eletrodo consegue fazer a separação da água sozinho sem a necessidade de um painel solar.

A geração de hidrogênio por energia solar é tida como a alternativa verde por excelência para a produção de um combustível limpo, já que a combustão do hidrogênio gera apenas água como subproduto. Portanto, a eficiência de produção de energia é a conversão solar para hidrogênio. “Só que depois há outros custos. Os paineis solares podem ser mais caros, mais raros e podem ser tóxicos. Portanto, menos estáveis que ao longo do tempo a sua produção vai se degradando”. O trabalho do IFIMUP está focado em materiais que sejam abundantes no planeta. “Não tóxicos, de baixo custo, estáveis e que sejam possíveis de processar por métodos escalados e tentar também que sejam eficientes”, completa. 

O projeto da Universidade do Porto, denominado H2Flexi-PEC’s, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), propõe uma alternativa mais barata, eficiente e escalável para a indústria produzir este combustível do futuro. O objetivo é apresentar uma célula fotoeletroquímica PEC flexível, FlexiPEC’s, com uma relação preço-desempenho adequada para competir com a geração elétrica tradicional baseada nos combustíveis fósseis, alcançando a eficiência solar-química de 10%, a necessária para comercialização. 

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