Os desafios do nosso tempo

Mudanças climáticas e agrotóxicos alteram a qualidade das sementes

Por Carol Conti, São Paulo.

Eliane Bordon participante da Rede de Sementes do Xingu, do Assentamento Bordolândia (MT), aponta que as alterações climáticas estão afetando as sementes. “No ano passado a seca foi tão forte que têm algumas espécies que estamos observando que não vão produzir. O chichá floriu muito pouquinho. O ipê verde também quase não produziu”, lamenta Eliane.

Essas mudanças são ocasionadas sobretudo pelo desmatamento em massa. Segundo dados do Sirad X, sistema de monitoramento da Rede Xingu+, nos últimos quatro anos, as taxas de desmatamento em toda a bacia do Xingu cresceram significativamente, sobretudo em Áreas Protegidas, onde a derrubada de floresta aumentou 108%,

O uso de agrotóxicos também é um grande problema. Muitas vezes, os aviões com o veneno usado nas plantações de soja, por exemplo, acabam por alcançar as matrizes e interferem na qualidade das sementes.

Bruna explica que, antes das sementes passarem pelo teste de germinação em laboratório, uma exigência do Ministério da Agricultura para quem comercializa sementes, os próprios coletores são instruídos a fazer essa triagem. “A gente tem visto que nem todas elas têm a mesma qualidade de algum tempo atrás. Chamamos de semente choca, que é quando o embrião está morto. Você coleta, o fruto até formou, mas ela não tem vigor, então não nasce. Os coletores já sabem: coloca na água, o que descer está bom, o que subir joga fora que não vai germinar”, completa.

“Onde tem floresta a temperatura é diferente, onde tem floresta a água é mais abundante. Se a gente quer ter vida no planeta Terra, a gente precisa de floresta. Até a produção. Onde estão as grandes produções de soja, de milho, de algodão? São as mais próximas das áreas verdes”, pontua Bruna. Ela, que faz a interface com fazendeiros da região, relata que muitas vezes tem de haver um trabalho pedagógico e de sensibilização para eles entenderem que a floresta em pé é benefício para todos.

A questão do aprendizado e da sensibilização fica bem evidente com a história de vida da coletora Elaine. “Nós sempre fomos da agricultura familiar, mas não com essa visão. Plantava para ter uma sombra, uma fruta, não com essa ideia de reflorestar. Meus pais vieram de Santa Catarina para derrubar, desmatar. Quando chegamos aqui na Bordolândia, não tinha sítio, nada, nem uma árvore. Tinha que colocar uma lona para minha filha, pequena, ficar embaixo. Pela necessidade, a gente começou a plantar. Hoje, fazendo a coleta de sementes e acompanhando o processo, eu entendo a importância do reflorestamento”, completa.  O reflorestamento vai ser uma das práticas fundamentais para o Brasil cumprir sua meta de redução de 50% das emissões até 2030 e zerá-las até 2050, de acordo com o compromisso firmado na Conferência do Clima da ONU em 2021 (COP-26). Marina Silva, em seu discurso de posse como ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, frisou a relevância da restauração florestal não só do ponto de vista ambiental, mas também econômico: “O Brasil tem a meta de recuperar 12 milhões de hectares de áreas degradadas, com potencial de gerar 260 mil empregos”, disse a ministra.