Instituto fundado pelo jogador promove formação antirracista para professores das escolas públicas
Por Redação.
Enfrentar o racismo tem sido uma batalha constante do craque brasileiro em sua jornada pelos campos espanhóis. Agora o camisa 10 da seleção abre uma nova frente no combate ao racismo. O Instituto Vini Jr, fundado pelo jogador, na cidade do Rio de Janeiro, iniciou um programa de formação antirracista para as escolas públicas da capital carioca.
O projeto nasceu de uma parceria entre a equipe pedagógica do Instituto e o professor Allan de Souza, que já tem ampla atuação na área. Já aconteceram duas oficinas sobre o tema em duas escolas municipais que possuem parceria com o instituto: EM Cantor e Compositor Gonzaguinha e EM Francisco Benjamin Galloti.
Entre os pontos abordados nas oficinas estão, por exemplo, a solidão da criança negra no ambiente escolar e a importância de uma educação antirracista nas escolas brasileiras; e as sutilezas do racismo recreativo e o impacto devastador que ele causa na mente de uma criança negra.
Alinne Ribeiro Lima, professora do terceiro ano do Ensino Fundamental, na Escola Municipal Francisco Benjamin Gallotti, participou do programa de formação e destaca que o “projeto veio como uma ferramenta a mais de trabalho, um norte, para ajudar a gente nessa discussão, nessa temática que é tão importante e tão presente na nossa vida. Principalmente, nós professoras e professores que trabalhamos dentro de uma comunidade, onde somos rodeados por violência, por questões sociais, enfim, por uma série de fatores e o trabalho antirracista vem ajudar a gente nessa luta, porque esse trabalho na verdade, sempre existiu. Essa nossa luta contra o racismo, ela sempre existiu!”.
A professora ainda ressalta que “agora esta luta está mais presente, porque se tornou mais pública, mais a vista de todos, porque ela sempre foi muito velada”. Alinne lembra “que o racismo sempre esteve aí, ele sempre esteve presente, só que de uma forma mascarada. Muito pouco divulgada. As leis antirracistas e os trabalhos desenvolvidos pelas instituições vieram para alertar e tirar este véu”, completa.
Alinne explica que o trabalho na escola sempre foi voltado para a identidade das crianças, porque muitos não se reconhecem negros e muitos não se valorizam. “Muitas dessas crianças não entendem sua cultura, sua origem, por isso, trabalhamos muito com a identidade, contra o racismo e o preconceito presentes nas escola, que a gente vê que acontece desde muito novos. Nós educadoras e educadores batemos muito na tecla porque ninguém nasce racista, não é? As pessoas são ensinadas”, completa a professora.
Os pontos e a metodologia do programa foram definidos após intenso debate interno da equipe pedagógica do Instituto Vini Jr, com a participação do professor Allan, que já criou oficinas com essa temática para trabalhar de forma leve com as crianças. Para produzir o material, foram ouvidas diversas pessoas e utilizadas referências variadas de autores e especialistas no tema.
Segundo Alinne com a formação a equipe da escola tem trazido mais assuntos e fatos que ocorrem no dia a dia para o debate com as crianças. “Sempre tem algum fato que acontece e que a gente traz à tona, como o caso que aconteceu com o Vini Jr naquele jogo, que foi o mais marcante. Foi uma grande discussão porque as crianças ficaram muito tocadas com o que aconteceu, ficaram tristes e chateadas e querendo muito falar sobre isso, porque o Vini Jr é uma referência para elas. Nesse sentido o Instituto e a formação vieram para nos auxiliar realmente em nosso dia a dia, em nossa rotina”, completa.
Dentro desta rotina diária Alinne lembra da importância da Lei Nº 10.639, de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. “Trabalhamos isso cotidianamente com histórias infantis, do nosso acervo de histórias e contos africanos da escola. Também utilizamos vídeos e desenhos infantis, porque trabalhamos com crianças do ensino fundamental, do primeiro ao quinto ano, todas na primeira infância”, completa.
Segundo a equipe pedagógica do Instituto Vini Jr, ainda não estão em curso oficinas com as alunas e os alunos. No momento, esse trabalho está sendo feito somente com as professoras e os professores para que se tornem multiplicadores.