Seleções de língua portuguesa chegam com força para a Copa Africana 

Começou no último dia 13, sábado, a 34ª edição da Copa Africana de Nações de futebol. O torneio que dessa vez está sendo sediado na Costa do Marfim traz muita expectativa depois da brilhante participação da seleção de Marrocos na última Copa do Mundo


Por Thiago Cassis

Garry Rodrigues comemora segundo de Cabo Verde contra Gana. Foto: CAF/Divulgação.

Com a maior parte dos atletas africanos disputando as principais competições europeias, espera-se um futebol de alto nível nos gramados marfinenses. Os países de língua portuguesa oficial estão representados por Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Guiné Equatorial. 

Embora o torneio ainda lute por espaço na mídia de países como Brasil, e mesmo na Europa, o certame está entre os principais do mundo em se tratando de seleções. De acordo com Anderson Lima, cineasta e educador para relações étnico-raciais, “enquanto a Copa da África reúne um elenco significativo de jogadores presentes na Premier League (campeonato inglês, o mais caro do mundo), a falta de visibilidade denuncia um condição alarmante. Essa disparidade ressoa como um eco do racismo estrutural que permeia silenciosamente o ambiente esportivo.” 

Os números confirmam a grande presença de jogadores africanos nos torneios de clubes europeus, para se ter uma ideia, dos atletas que participam da competição continental na Costa do Marfim, 59 jogam na França, 31 na Inglaterra, 20 na Espanha, 18 na Itália e 17 na Alemanha. 

Anderson Lima.

Força nos gramados e luta fora dele

Para o ex-atleta angolano, Johnson Macaba, que defendeu a seleção de seu país no torneio de 2010, “a Copa será bem disputada, será a primeira edição após uma seleção africana chegar nas semifinais da Copa do Mundo”. O ex-jogador se refere a seleção de Marrocos, que surpreendeu até seus torcedores e chegou longe no mundial. 

Mas além da própria seleção de Marrocos, outros países despontam como favoritos, para o ex-jogador da seleção brasileira, Zé Maria, e que como treinador conquistou o campeonato queniano pelo Gor Mahia, “Nigéria, Costa do Marfim, Senegal, com o Salah (atleta do Liverpool), que chegou na final da última edição, devem lutar por essa Copa”. 

Zé Maria, brasileiro, quando treinador do Gor Mahia, do Quênia. Foto: Divulgação.

Já sobre os jogadores que devem brilhar nessa edição, Zé Maria destaca “Osimhen, que joga no Napoli, o próprio Salah, o Mane, de Senegal, Hakimi, de Marrocos, Lemina, que embora Gabão não chegue tão forte, também pode ir bem, ou seja, o continente africano tem jogadores muito bons e que fazem parte das principais ligas”. 

Apesar da grande evolução que o esporte do continente apresentou nos últimos anos. Macaba ressalta, “o futebol é um reflexo da sociedade, sabemos das dificuldades que os países africanos têm, nas questões de estrutura, investimento, nas questões sociais, então tudo isso reflete no esporte de alguma maneira”. Mesmo com tantos talentos na África, o ex-craque acredita que “sem investimentos em profissionais preparados para conduzirem a modalidade, ainda fica um pouco complicado crescer mais”. 

Para Zé Maria, acerca dos grandes desafios que o futebol africano apresenta também estão “a dificuldade de encontrar gramados perfeitos e estádios preparados para receber grandes públicos com total segurança”. 

Se fora do campo, o futebol africano ainda precisa evoluir em alguns pontos, na moda certamente as seleções do continente foram as mais inovadoras do planeta. Atletas de diversas seleções, como Nigéria, Costa do Marfim, Gana, entre outras, desembarcaram para a disputa vestindo trajes com inspirações em vestimentas e tecidos que remetem a tradições locais de seus países e regiões. 

Seleções de língua Portuguesa

Em relação a seleção de seu país, Angola, Jonhson Macaba, acredita que o momento atual é de afirmação, “a equipe vinha em um processo muito difícil nos últimos anos, depois da Copa da África de 2010, que foi disputada em solo angolano, e chegamos nas finais, não conseguimos mais resultados de expressão, mas agora o treinador português, Pedro Gonçalves, encontrou uma boa nova geração”. O atleta salienta que essa nova fase é fruto do Mundial Sub-17 disputado no Brasil, onde a seleção angolana avançou para as fases finais, “esse grupo atual vem jogando juntos desde aquele torneio”, destaca.  

Witness Quembo marca o gol de empate de Moçambique contra o Egito. Foto: Reprodução.

Porém, se depender dos primeiros jogos, as seleções de língua portuguesa tem motivos para se animar, Moçambique surpreendeu ao arrancar um empate por 2 a 2 frente ao Egito, maior ganhador de títulos da competição até aqui com sete conquistas, e Cabo Verde, que conta com uma boa geração, foi mais longe e venceu a forte seleção de Gana por 2 a 1. A Guiné Equatorial conseguiu um empate com a Nigéria, assim como Angola, que também empatou com a forte Argélia. A equipe de Guiné-Bissau já não teve a mesma sorte, e sucumbiu na partida de estreia da competição frente aos anfitriões marfinenses. 

Muita emoção e grandes jogos ainda estão por vir, e na próxima sexta, dia 19, acontece um clássico entre seleções de língua portuguesa, Cabo Verde tenta emplacar mais uma vitória, contra a surpreendente seleção de Moçambique. A partida acontecerá na cidade de Abidjã.

Gol de Garry Rodrigues que deu a vitória a Cabo Verde. Foto: Reprodução.
Seko Fofana marca o primeiro gol da CAN 2023, pela Costa do Marfim contra a Guiné-Bissau. Foto: Reprodução.