Levante de Ribeirão Manuel foi liderada por Ana da Veiga, conhecida como Nhanha Bomgolom
Por Larissa Silva, Cabo Verde.
Pode ser difícil para os brasileiros, que já celebraram os 200 anos de independência de Portugal, pensar que até 1974 e 1975, os países africanos de língua portuguesa ainda eram colônias de Portugal. Mas, por mais difícil e complexo que seja, é importante conhecermos histórias de resistências que cruzaram esses países que se tornaram marcas importantes para sua sociedade. Ainda mais quando são lutas travadas por mulheres, trabalhadoras, exploradas, que usavam sua força para defender o seu povo e seu trabalho.
Por volta de 1910, Ana da Veiga, Nhanha Bomgolom, liderou uma das revoltas mais importantes e emblemáticas entre mulheres e homens de Cabo Verde. Naquele período, as terras estavam nas mãos de poucos proprietários, os chamados “morgados”, que alugavam as terras às famílias para exploração agrícola e pastoril, com o pagamento de rendas.
Trabalhando em condições deploráveis, um grupo de explorados pelos “morgados”, decidiu não pagar as rendas que eram obrigatórias e passou a colher de forma ilegal os frutos da purgueira. Neste período, a purgueira era vendida na Europa para saboaria. Foi então apresentada às autoridades portuguesas uma queixa contra as mulheres da região, dizendo que elas estariam assaltando as terras dos “morgados”.
Marcha pela mulheres
Nhanha Bomgolom, organizou uma revolta popular para liberar as mulheres que foram presas. Marcharam então até a Prisão de Cruz Grande com a narrativa: ” Aqui não há negro, não há branco, não há rico, não há pobre… somos todos iguais!” e dizendo: “Omi pedra, mudjer matchado, mininus tudu ta djunta pedra” (os homens com pedras e mulheres com machados e os meninos todos a ajuntar pedras). A resistência alcançou a libertação das mulheres.
O simbolismo das mulheres na liderança das revoltas, mostra o importante papel das cabo-verdianas no interior agrícola deste país. Nhanha Bomgolom foi então a protagonista da Revolta de Ribeirão Manuel.
Ribeirão Manuel em Santa Catarina na Ilha de Santiago tem uma praça com o nome de Ana da Veiga e um monumento para homenagear esse importante marco para Cabo Verde. O músico Orlando Pantera, com “Raboita di Rubon Manel“, popularizou a revolta.
Confira a versão da cantora Lura.
Em visita a Santa Catarina, o grupo que fazia parte do XV Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais (CONLAB), realizado na Universidade de Cabo Verde no final de setembro, foi recebido por batucadeiras da região na praça de Ana da Veiga. O Portal Vozes participou da visita e conheceu a história no local de origem. Assista aos vídeos: