Artista angolano tem forte influência da literatura em seus quadros
Por Marcelo Ayres, São Paulo.
Dizem que uma imagem vale por mil palavras, no entanto, livros, poesias e contos, em poucas palavras suscitam milhares de imagens. Paulo Chavonga usa em seus trabalhos a literatura, a língua portuguesa e sobretudo a poesia como fio condutor de sua obra,
Desenhando e pintando desde menino, foi em sua adolescência que a poesia entrou e se instalou em sua vida. A efervescência da luta pela independência de Angola gerou muitos herois e um dos principais foi o primeiro presidente Agostinho Neto (1922 – 1079) que entre tantas habilidades era poeta. Chavonga cresceu com esta veneração aos herois e principalmente com os poemas de Agostinho. Nesta sua fase da vida ele estava totalmente apaixonado pela literatura. Lia muito, pulava de biblioteca em biblioteca devorando os livros.
Era um período no qual aconteciam muitos saraus que envolviam leituras e declamações de poemas. Ali ele sentia seu sangue pulsar e o desejo de escrever poesia. Toda esta força criativa para escrever gerou um processo diferente, ao invés de escrever, por conta de seu talento para a pintura, começou a produzir quadros e a partir deles criar os poemas para dar outros significados para aquela emoção que sentia por conta da literatura.
E foi com o livro Sagrada Esperança, de Agostinho Neto, que ele mais se identificou. Foi nele que encontrou aquilo que mais fazia sentido para ele do trabalho de Agostinho Neto e o inspirou em sua primeira exposição individual aos 17 anos. Não à toa um dos quadros, O olhar triste de uma África que chora foi o de maior sucesso desta mostra.
Nessa exposição Paulo apresentou 12 quadros e cada um deles tinha um poema composto por ele, que eram declamados por outros poetas convidados. O sucesso da exposição abriu a as portas para Chavonga representar seu país em uma exposição internacional.
Dois anos depois o ainda jovem artista angolano chega ao Brasil e nesta fase a literatura o influencia de outra forma, por meio dos contos. Mais precisamente nas histórias que criava a partir de um projeto chamado Histórias que Contam África pelas ruas da cidade de São Paulo, no qual ele retratava os africanos, vendedores ambulantes invisíveis que atuam nas ruas desta grande cidade.
Paulo não queria simplesmente representá-los ali, muitas vezes sentados no chão ou apoiados em paredes oferecendo seus produtos. Ele os entrevistava e buscava seus sonhos e esperanças antes de imigrar, o que eles viviam de verdade e suas esperanças depois que começavam a viver no Brasil de fato.
O trabalho gerou uma residência artística no Museu da Imigração chamada Rostos invisíveis da imigração do Brasil, na qual cada pintura dos rostos invisibilizados das ruas tinha um conto, uma história escrita para ser ouvida e sentida por quem visitava a exposição. Ainda em Benguela, sua cidade natal em Angola, inspirado pelas poesias, Paulo pintava os elementos da cultura africana de sua região, as cenas e momentos da comunidade, o Kandongueiro, no kimbo, as festas de quintal, as conversas em volta da fogueira. No Brasil essa força o ajuda a transformar essa necessidade de dar visibilidade a todos aqueles tornados invisíveis.