A 30.ª edição da Conferência das Partes (COP30)— pela primeira vez realizada na região da Amazônia, no Brasil — assume especial significado para os países falantes de português, que incluem Brasil (como anfitrião), Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné‑Bissau, São Tomé e Príncipe, Guiné‑Equatorial e Timor‑Leste. Juntos, esses países partilham língua e, em muitos casos, desafios comuns em matéria de alterações climáticas, vulnerabilidades e transição energética.
A seguir, confira um resumo das participações, dos principais focos de cada país e das oportunidades e desafios que se abrem.
O palco: Amazônia e significado da COP30
A COP30 decorrerá entre 10 e 21 de novembro de 2025, no pavilhão “Hangar Convenções e Feiras da Amazônia”, na cidade de Belém (Pará, Brasil).
Esta será a primeira vez que a conferência da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas) se realiza na Amazônia, o que confere ao evento um símbolo forte: a crescente urgência em torno dos ecossistemas florestais tropicais, da biodiversidade e da justiça climática.
Para os países de língua portuguesa, muitos dos quais enfrentam diretamente impactos ou capacidades limitadas de resposta, isto representa uma oportunidade para se fazerem ouvir — tanto no âmbito da comunidade, como no fórum global. Para além disso, a comunidade da língua portuguesa já tem vindo a reforçar a sua cooperação em matérias de energia, clima e transição.
Destaques por país
Brasil – Como país-anfitrião, o Brasil assume um papel central. A escolha da Amazônia como palco — “porque representa o símbolo que o mundo precisa escutar” — coloca o Brasil numa posição de liderança, mas também de enorme responsabilidade perante a floresta, os povos indígenas e a comunidade internacional.
Portugal – Tem vindo a assumir um papel bastante ativo na adaptação às alterações climáticas, o que tem sido destacado por representantes portugueses numa fase preparatória.
Angola – Conforme divulgado, o Ministério do Ambiente angolano realizou reunião preparatória para a sua participação na COP30, discutindo logística, pavilhão nacional, cooperação público-privada, e reforço das acções de mitigação e adaptação.
Moçambique – O país enfrenta desafios dramáticos no que toca a eventos extremos (ciclones, chuvas intensas) e reconhece um elevado nível de “despreparo” para participar da cimeira, pelo menos segundo declarações oficiais.
Cabo Verde – Tem vindo a enfatizar a voz dos SIDS (Small Island Developing States) entre os países de língua portuguesa, salientando vulnerabilidades específicas como subida do nível do mar, poluição plástica e defesa dos recursos marinhos.
Guiné-Bissau – A Guiné-Bissau prepara-se para integrar a agenda global do clima em Belém, Brasil, com foco não apenas na mitigação — mediante a exploração de mecanismos de flexibilidade previstos no artigo 6.º do Acordo de Paris —, mas também no fortalecimento da cooperação entre países lusófonos no domínio da adaptação e da transição energética
Timor-Leste – Embora com menos destaque mediático, fazem parte da comunidade da língua portuguesa e estão envolvidas em processos de cooperação em clima, energia renovável e transição.
São Tomé e Príncipe – A participação de São Tomé e Príncipe na COP30 traduz-se numa entrada estratégica e determinada de um Pequeno Estado Insular de Língua Portuguesa que conjuga vulnerabilidade climática elevada com uma agenda de cooperação e transição energética. Sob a presidência em exercício da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), São Tomé e Príncipe acolheu em Março de 2025 o 4.º Seminário de Energia e Clima da CPLP, onde foi construído o “Roteiro de Cooperação 2030” para o bloco lusófono, no âmbito da preparação da COP30. Guiné-Equatorial
Temas comuns e lutas conjuntas
Entre os países de língua portuguesa destacam-se várias linhas de ação e discussão:
- A transição energética e a promoção de fontes renováveis.
- Adaptação às alterações climáticas: Vários países enfrentam diretamente os efeitos (insulares, costeiros, secos ou com catástrofes naturais mais frequentes) e participam no debate global sobre como se adaptar.
- Justiça climática e acesso a financiamento: A conferência na Amazónia reacende a discussão sobre quem faz parte das mesas de decisão e quem acede aos fundos climáticos.
- Cooperação entre os países de língua portuguesa: Já se identificaram eixos de cooperação em energia e clima no âmbito da CPLP.
- A voz dos povos vulneráveis: Pequenos Estados insulares (como Cabo Verde ou São Tomé e Príncipe) ou países com limitado desenvolvimento destacam que têm muito a perder e proporcionalmente menos meios para agir.
A participação dos países de língua portuguesa na COP30 ocorre num momento simbólico e substancial: simbólico porque a conferência decorre pela primeira vez na Amazônia — um ecossistema globalmente vital — e substancial porque muitos destes países partilham vulnerabilidades, desafios de transição e uma língua comum que pode facilitar cooperação.
Cabe agora transformar presença em voz e voz em ação — tanto no contexto global da COP30 como nos seus próprios territórios. A comunidade poderá tornar-se um bloco relevante na defesa de agendas de adaptação, justiça climática e transição verde. A COP30 representa, assim, uma oportunidade de visibilidade e de responsabilidade.
Imagem: Na Estação das Docas, ponto turístico de Belém, um letreiro da COP30 com imagem do Curupira diverte os turistas.
