A abundância de recursos energéticos renováveis e resíduos orgânicos oriundos da agricultura revelam as condições favoráveis do Brasil para produzir hidrogênio verde
Por Besna Yacovenco
A transição energética é o principal objetivo a alcançar até o ano de 2050 de acordo com o compromisso celebrado no Acordo de Paris, que busca reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE), diminuir a dependência de fontes de energia fósseis e mitigar as ameaças das mudanças climáticas.
Nesta conjuntura, pela versatilidade de uso e a capacidade de armazenar energia, a fonte que se apresenta como alternativa viável é o hidrogênio verde, permitindo reduzir as emissões de GEE até dos setores mais difíceis como combustíveis (transportes pesados de longas distâncias), eletricidade e indústria (petroquímica, siderurgia, cimento, mineração e agroindústria), contribuindo para a descarbonização da economia global.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, no Brasil, dada a abundância de recursos naturais – luz solar, ventos fortes e recursos hídricos -, a infraestrutura instalada para gerar energia elétrica a partir de fontes renováveis e a produtividade de cana-de-açúcar e milho que podem ser utilizados na produção de biomassa, além dos resíduos orgânicos, como a palha de cana-de-açúcar, que podem ser aproveitados para a produção de biogás. Ainda de acordo com o MME “o Brasil tem forte potencial de se tornar um importante player no mercado global” na produção de hidrogênio verde.
Na atualidade o Brasil produz e consome hidrogênio, porém ele é utilizado como matéria prima para fertilizantes, refinarias de petróleo, hidrogenação de óleos vegetais e tratamento de metais. No entanto,o MME informa que foram anunciados no país investimentos de US$ 20 bilhões para projetos de pesquisa e desenvolvimento em escala piloto e industrial para fins energéticos, por exemplo combustível.
Potencial a ser explorado
Gabriel Lassery, Superintendente executivo da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2), explica que a partir dos projetos mapeados no Painel de Dados sobre Hidrogênio no Brasil da Empresa de Pesquisa Energética, braço técnico do MME, é possível dimensionar o “potencial total de produção de hidrogênio a partir de fontes renováveis, estimado em aproximadamente 19 milhões de toneladas de H2/ano”, completa. Gabriel ao destacar o recente anúncio realizado no 3º Congresso Brasileiro do Hidrogênio, em maio de 2023, sobre o descobrimento de fontes de hidrogênio natural na cidade de Marica (RJ),aponta que a “atualização dessas estimativas estão intrinsecamente relacionadas à pesquisa e inovação, pois conforme novas rotas são descobertas e/ou desenvolvidas, esse potencial aumenta”.
Vários dos projetos tecnológicos mapeados são parcerias entre universidades, institutos de pesquisa e empresas. De acordo com Ministério das Minas e Energiaos projetos do Hub de Hidrogênio Verde no Estado do Ceará no Porto de Pecém, os do Porto de Suape em Pernambuco e os que ocorrem no Porto do Açu no Estado do Rio de Janeiro são exemplos das parcerias realizadas e em fase de estudo da viabilidade técnica e econômica dos projetos de escala industrial anunciados em 2021.
Igualmente o MME do Brasil destaca que “o desenvolvimento sustentado e sustentável do mercado energético do hidrogênio (recordando que o uso preponderante do hidrogênio atualmente no mundo é não energético) é um desafio de ordem mundial e demanda o enfrentamento de diversos desafios de ordem tecnológica, ambiental, de competitividade, estabelecimento de uma cadeia de valor estruturada, de formação de recursos humanos e financiamento”.
A respeito da estratégia nacional de Hidrogênio o MME afirma que “no caso brasileiro, o governo federal tem atuado de forma articulada considerando as diversas esferas de atuação necessárias (energia, ciência e tecnologia, educação, economia, meio ambiente, desenvolvimento regional etc.) e desenvolve ações dentro do Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), instrumento que orientará um conjunto de ações a serem desenvolvidas para o desenho deste mercado de hidrogênio”.
Desafio tecnológico
Considerando a estratégia nacional de Hidrogênio sendo desenhada no Brasil, recentemente, em março de 2023, a Câmara dos Deputados do Brasil criou a Comissão Especial da Transição Energética e Produção de Hidrogênio Verde para acompanhar a implementação das medidas que estão sendo adotadas na transição da energia verde no Brasil e avaliar as políticas públicas que tratam do tema promovendo a criação de um marco regulatório.
Segundo Gabriel Lassery da ABH2 “o desafio tecnológico da produção do hidrogênio já está suplantado e os próximos passos envolvem, de fato, o armazenamento e o transporte em larga escala”. Ele ressalta ainda que “a instalação de indústrias na cadeia de valor do hidrogênio em território nacional também tem potencial reindustrializante e de criação de empregos, além de fomentar a inovação e o desenvolvimento da tecnologia nacional através de pesquisa e desenvolvimento em universidades e centros de pesquisa”. Ainda de acordo com Gabriel “para que o país desenvolva efetivamente o mercado nascente de energia do hidrogênio, é preciso criar demanda e alinhar as expectativas do produtor e do consumidor” e segundo ele “isso pode ser feito através das indústrias de produção de fertilizantes com amônia de baixo carbono, produção de produtos descarbonizados com hidrogênio, utilização do hidrogênio na mobilidade e através da exportação de produtos descarbonizados, o que ainda faz com que o Brasil se torne um agente descarbonizante da matriz energética de outros países”