DJs angolanos e brasileiros mantêm a popularidade do ritmo no Brasil
Por Marcelo Ayres, São Paulo.
Joss Dee, angolano de 27 anos que há dez anos vive no Brasil, no Rio de Janeiro é produtor musical e DJ, que cresceu ouvindo e dançando o Kuduro em Luanda. Ele ressalta a atuação dele e outros DJs aqui no Brasil, como por exemplo, Raiz, Fábio Lima e Evans em Salvador e o DJ Salu em São Paulo no impulsionamento do Kuduro.
Em seus sets, todas as semanas, eles levam o Kuduro às festas, eventos e clubes e não somente nas cidades em que vivem, pois são convidados para tocar em vários lugares do Brasil. São muitas noites de embalo no ritmo angolano.
No início de sua adolescência, Joss Dee já criava batidas para seus amigos cantarem e juntos animavam as festas do bairro. O DJ define o Kuduro como um gênero de música e dança angolano marcado por uma construção de identidade periférica muito forte. “O Kuduro tem uma contribuição da periferia muito evidente, que atravessa a vivência cotidiana dos angolanos de um modo geral. É um gênero bem diverso e abrangente. Apesar de ter começado essencialmente na dança ele foi ganhando outros contornos com o passar dos tempos. Você pode ouvir o Kuduro para dançar em uma festa, você pode ouvir o Kuduro para refletir sobre a vida, você pode ouvir o Kuduro para esquecer dos problemas e você pode ouvir o Kuduro antes de resolver um problema!”, completa.
Joss Dee considera o Kuduro como uma forma de manifestação cultural que todo angolano carrega no sangue e uma linguagem que todo angolano entende. Desde os 18 anos no Brasil, ele é um dos mais ativos na produção musical do gênero aqui no país, tanto em composições próprias como em parcerias. Já fez a abertura de shows para Erykah Badu, Luedji Luna e Flora Matos. Sua parceria mais recente, “Deixa Brilhar” é com a cantora Ella Fernandes, na qual mostra outra de suas facetas, que está na mistura do Kuduro com ritmos brasileiros como, por exemplo, a nova MPB nesta união com Ella e o funk carioca com a música “Vapo Vapo”.
Força na Bahia
O DJ Raiz nasceu em Salvador, na Bahia e desde que conheceu o Kuduro, quando ouviu um CD do kudurista Dog Murras, grande expoente do gênero em Angola, começou a colocar o ritmo em seus sets nas festas. Com DJ Fábio Lima, outro angolano radicado na Bahia, Raiz compôs uma música que homenageia a conexão, via Kuduro entre Angola e Bahia. Outra parceria de Raiz foi com a cantora baiana Mila Santana.
Raiz foi tão fundo em sua imersão no Kuduro que criou uma das festas mais concorridas em Salvador, a “Socakuduro”, na qual misturava o Kuduro com o Soca, ritmo de origem africana vindo do Caribe.
O DJ baiano ressalta a força do Kuduro aqui no país contando que Dog Murras, voltou ao Brasil, em 2022, para gravar com o Baiana System. Além disso, outro grande Kudurista angolano, Iuri da Cunha gravou com Claudia Leite e teve participações com Ivete Sangalo e Carlinhos Brown.
Artistas de sucesso de Angola no Brasil
De grande expressão e sucesso em Angola e muito conhecido aqui no Brasil vindo constantemente para shows, Príncipe Ouro Negro, atualizou a forma de ser ver e ouvir o Kuduro no territótio brasileiro. Os kuduristas são irreverentes na forma de vestir e gostam de marcar seu estilo e até chegam a criar linguagens próprias como a que o Principe Ouro Negro inventou e ainda outras conhecidas em Angola como o Burguês e o Estru,
Muito ativo na promoção e divulgação do Kuduro no Brasil, DJ Joss entende que o Kuduro ainda tem muita expressão dentro da comunidade de imigrantes angolanos, tanto aqui como nos outros países, no entanto, já consegue ser sucesso fora desta comunidade, principalmente entre os mais jovens que consomem muito os vídeos pelo YouTube.
Segundo Joss, o Kuduro superou o estigma marginalizado de ser uma expressão artística dos pobres, de periferia, de “malandro” chegando a ser chamado como “coisa de vagabundo”. “Hoje em dia ele já nas entranhas da cultural angolana, uma instituição cultural do país. Não só a geração dos jovens, mas os mais velhos também gostam do Kuduro, o Kuduro é dos angolanos”, ele completa.
O DJ Dee relembra da grande importância do grupo Buraka Sound System, composto por angolanos e portugueses, que fazia a fusão do Kuduro “raiz” com o Tecno. O Buraka foi o responsável em levar esta cultura para fora de Angola principalmente na Europa. “Foram eles que tiraram o Kuduro dos guetos em Portugal mostrando-o para um público maior. Mesmo não sendo populares na cena dos guetos lisboetas eles abriram caminhos para outros artistas chegarem a serem conhecidos”, completa Joss Dee.
Graduado em Relações Internacionais e Comércio Exterior, Joss Dee está terminando um mestrado em Economia Política Internacional. Aproveitando esta experiência acadêmica, ele desenvolveu um projeto de pesquisa sobre Kuduro, que rendeu um documentário chamado “Isto é Kuduro”. Ele pretende com este trabalho tornar-se uma referência para o Kuduro em nosso país, para que as pessoas possam entender o que ele significa, como nasceu e como é atualmente.
DJ Joss está trabalhando em um álbum que vai ser lançado em 2023 chamado Kudurista e funqueiro onde ele traz esta perspectiva de aproximar os gêneros Kuduro, Afrohouse e o funk carioca. Neste trabalho, utilizando a base do ritmo do Kuduro os funqueiros cantam seus refrões e rimas. “São gêneros que tem suas origens na periferia, com forte visão social e de crítica, mas no álbum eu quero trazer isto em uma perspectiva mais musical, pois são gêneros que tocam mais ou menos na mesma velocidade, frequência e cadência”, completa.
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