Equipes femininas lideram desmontagem das minas terrestres deixadas pela guerra civil no país
Da Redação.
Desde 2007, a HALO Trust, uma organização britânica sem fins lucrativos que lidera a luta contra as minas terrestres no país africano, iniciou um projeto único no mundo nas ações de desmontagem de minas, para formar e empregar equipes de desminagem exclusivamente femininas.
Três décadas de guerra civil em Angola deixaram um legado devastador de minas terrestres e bombas não detonadas. O país ainda é um dos que mais possuem campos minados do mundo, com cerca de 90 milhões de metros quadrados ainda contaminados. Mesmo que, com a guerra civil, toda a população tenha sido afetada de maneiras diferentes, um relatório do Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres de 2004, concluiu que as mulheres foram as mais prejudicadas pela desnutrição, pobreza, analfabetismo e desemprego.
Em seu lançamento, o projeto estabeleceu a meta inicial de recrutar 100 mulheres angolanas como desminadoras. Em 2021 a marca foi atingida e se transformou em um marco no combate às minas terrestres. Atualmente, a organização tem cerca de 400 mulheres desmontadoras de minas em Angola, e um número crescente de novas participantes em treinamento.
As mulheres recrutadas para o projeto vêm de comunidades de baixa renda da região da província de Benguela. Mais de 80% são mães solos e, para uma em cada cinco, este é o primeiro emprego adequado. O campo minado da serra de Benguela é um dos mais de 1.100 campos ainda ativos em todo o país.
O relatório da Halo sobre as “100 Mulheres Desminadoras” aponta que em Angola o emprego, o acesso à educação e aos serviços de saúde continuam a beneficiar predominantemente os homens. Assim, ao criar empregos para as mulheres onde as oportunidades são escassas, o projeto propicia que elas possam assumir o controle de suas vidas e desempenhar um papel importante no futuro de seu país.
Angola tinha um compromisso de remover todas as minas até 2018. No entanto, o volume de minas instaladas, o ritmo lento dos trabalhos e o pouco investimento fizeram essa meta ser projetada para mais 20 anos.
Aportes de investimentos nos fundos de desminagem do governo angolano no valor de 60 milhões de dólares para serem utilizados no sul do país, na província de Cuando Cubango e a limpeza total do campo da província de Huambo, que já foi a zona mais densamente minada de Angola, fazem com que atualmente a Halo veja o processo de desminagem com mais otimismo e espera que, até ao final de 2023, a província de Benguela possa fazer o mesmo.