Por Jamil Chade
A primeira viagem internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2024, será para o continente africano. Em fevereiro, o brasileiro será um dos convidados de honra da cúpula da União Africana, que ocorre em Addis Abeba. Ainda existe a possibilidade de que Lula amplie a turnê pelo continente, incluindo Moçambique o Egito.
Desde sua volta ao poder, há um ano, o presidente colocou como uma de suas prioridades de política externa a retomada da agenda com a África. O esforço nessa direção havia sido praticamente enterrado durante os anos de Jair Bolsonaro, que tirou o continente dos pontos de destaque de sua diplomacia.
Em 2023, Lula esteve na cúpula do Brics, na África do Sul, e aproveitou a viagem para fazer uma escala em Angola e na cúpula da CPLP.
Em paralelo, um dos esforços da diplomacia brasileira foi a de convencer as principais potências sobre a necessidade de que os africanos estivessem mais representados no G20, bloco que o Brasil preside em 2024. Como resultado, a União Africana passou a ser considerada como membro do G20, passo considerado como estratégico para garantir uma maior representatividade dos emergentes no grupo que muitos consideram como o diretório do planeta.
A presença, em fevereiro, na cúpula da UA consolida esse retorno de uma estratégia africana na diplomacia brasileira.
Outra intenção do Palácio do Planalto é de que a viagem inclua Moçambique, um país de língua portuguesa e considerado como uma peça importante na presença do Itamaraty no continente africano. A dificuldade, porém, decorre do calendário eleitoral no país africano.
Com eleições marcadas para o segundo semestre, Maputo vive um momento de indefinição política. O atual presidente não pode voltar a se candidatar e a Frelimo, até agora, não definiu quem seria seu candidato. Na prática, se Lula optar por fazer uma parada em Maputo, se reunirá apenas com um presidente que está de partida.
Outra opção de destino para Lula na África é o Cairo. O governo do Egito teve um papel importante na negociação para a liberação dos brasileiros que estavam em Gaza. A viagem, portanto, cumpriria pelo menos três funções: agradecer às autoridades locais, posicionar o Brasil como um interlocutor que quer tratar da questão palestina e ampliar o comércio e relações com uma das principais economias africanas.
Para o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, há uma deliberada retomada das relações brasileiras com o continente africano, com grande importância para o futuro da promoção comercial nacional.
“A ausência do Brasil na África, ocorrida nos últimos sete anos, foi uma tragédia porque significou um retrocesso para a diplomacia brasileira e um atraso no nosso fluxo comercial com a região”, disse ainda em meados do ano. “Com a diplomacia presidencial de Lula, temos agora uma nova janela para o Brasil se reposicionar no mundo”, afirmou.
De acordo com o governo, desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, o Brasil deixou a África de lado — uma prioridade do Itamaraty a partir do primeiro governo Lula, em 2003 — e passou a dar atenção a outros países, abrindo o flanco para que outros parceiros dos BRICS, como a China, ampliassem sua presença no outro lado do Atlântico.
Hoje, o principal parceiro comercial da África é a China, com comércio de US$ 243,3 bilhões, enquanto o Brasil tem um fluxo de US$ 21,3 bilhões, um décimo de Pequim.
Em 2003, o Brasil era o 16º maior fornecedor de produtos e serviços para África, enquanto a China estava em 7º lugar. A França era então o maior fornecedor.
Em 2022, o Brasil se manteve estagnado, em 15º lugar entre as nações como origem das importações para os 54 países da África. Já a China havia saltado da 7a posição para a 1a, retirando o posto que tradicionalmente era da França.