Festival de cultura urbana, que está na sua 13ª edição, quer levar artistas das comunidades para o Terreiro do Paço
Por Lina Moscoso, Lisboa.
O Terreiro do Paço (praça localizada no centro de Lisboa, que já foi palácio dos antigos reis) com um palco e vários centros. Essa é a ideia da edição 2023 do Festival Iminente que este ano será totalmente gratuito e acontece nos dias 14 e 15 de outubro.
“Queremos trazer as margens para o centro de Lisboa”, revela Carla Cardoso, diretora do festival. A proposta é romper com o desenho colonial e segregador da cidade, levando, portanto, as comunidades marginalizadas para o Terreiro do Paço, local cada vez mais moldado pelo turismo, enquanto as comunidades locais e a cultura urbana estão progressivamente circunscritas a outros centros. O interesse do evento é “desenvolver artisticamente o tema da marca da revolução na diáspora africana na sociedade de hoje e a marginalização destas comunidades, marcada também pelo desenho da cidade de Lisboa, enquanto nova metrópole centralizadora e que continua até hoje”.
O festival está apoiado em valores fundamentais como liberdade, equidade, diversidade, tolerância e partilha. “Isso inclui a procura de espaço/palco para várias etnias, gêneros, idades, um espaço multidisciplinar e multicultural sem barreiras e sem margens. Um espaço que aponte para uma cidade mais plural e decolonial”, descreve Carla Cardoso. Deste modo, a programação conta com artistas naturais ou descendentes de ex-colônias portuguesas “com a intenção de desenvolver um objeto artístico que pense sobre as formas de representação e visibilização política em Portugal dados à colonização e descolonização, a independência das colônias e a sua influência na sociedade portuguesa contemporânea”.
Assim, os artistas Fiumani, Cássio Markowski, Vhils Studio, Márcio Carvalho e Dish trabalham o tema da descentralização imbuídos dos estímulos que as comunidades lhes deram. Eles deverão refletir agora no Terreiro do Paço as experiências que tiveram no verão noutros centros importantes da cidade, que são os Bairros que o Iminente trabalha, realizando workshops com as comunidades – Bairro do Rego, Chelas e Alcântara.
Depois, Liberdade Iminente é um projeto de co-criação em residência de uma instalação multidisciplinar que estreará no Festival Iminente e que pretende evocar, à luz da contemporaneidade, os 50 anos do 25 de abril – data da Revolução dos Cravos que iniciou o processo de transição do governo ditatorial para o regime democrático. Além disso, Ângela Ferreira, Piny e Scúru Fitchádu – artistas portugueses que têm origens nos países que eram colônias (Moçambique, Angola e Cabo Verde) – irão criar uma obra que evocará processos políticos de representação e visibilização para falar também sobre a descolonização e o direito à cidade.
No espaço arraial, haverá o comércio de empreendedores dos bairros periféricos da zona de Lisboa. Lá será comercializada a melhor cachupa de Lisboa, as épicas chamuças da Alta de Lisboa, e o novo menu saudável do Bairro do Rego. Os artistas que estiveram em edições anteriores também foram convidados a participar este ano, como Vhils, PichiAvo e Tamara Alves.
Fora isso, será apresentado o programa de Artes Visuais de Iminente Takeover, que é uma extensão do trabalho que os artistas desenvolveram no âmbito do projeto BAIRROS de 2023. Esses artistas foram escolhidos pelas comunidades desses bairros.
De acordo com a diretora do evento, tentou-se desde o início do festival que este se reinvente todos os anos, com o intuito de promover edições singulares e surpreendentes. “Desde 2016, já estivemos no Jardim Municipal de Oeiras, no Panorâmico de Monsanto, e na Matinha, em Marvila, e este ano, estaremos no Terreiro do Paço. Estamos muito contentes por fazer esta edição no coração de Lisboa, com entrada livre, contribuindo para o usufruto desse espaço por quem habita a cidade”, finaliza Carla Cardoso.
Saiba mais
O Festival Iminente é uma expressão da cultura urbana a uma escala global. Juntando artistas emergentes e de renome com percursos variados, é uma união de culturas, línguas e estilos, condensados numa experiência de intimidade coletiva. Trata-se de um catalisador para a divulgação da cultura e arte urbana internacionais.
Desde 2016, o Festival Iminente ocupou 6 cidades (Oeiras, Lisboa, Londres, Shanghai, Rio de Janeiro e Marselha) em 5 países, com um total de 12 edições que protagonizaram mais de 300 artistas portugueses e internacionais.