Yannick Delass nasceu no Congo, viveu em São Tomé e Príncipe onde aprendeu o português, que lhe abriu caminho para o Brasil
Por Redação, São Paulo.
O músico congolês Yannick Delass tem como ele mesmo define um espírito aventureiro. “Eu gosto viajar, descobrir, me colocar desafios, isso é o que eu gosto de fazer. Eu gosto de me propor a vida assim, senão nada na vida teria sentido para mim sem esses desafios”, destaca.
Com São Tomé e Príncipe Yannick possui uma questão histórica familiar. No entanto, seguir para lá também era uma experiência antropológica de resgate das origens. “Muitos nossos povos passaram por lá, em São Tomé e Príncipe, quando foram escravizados, por exemplo, antes de serem enviados para o Brasil ou para outros lugares”, explica. “São Tomé e Príncipe não foi só um país. Ele foi um ponto de transição dos escravizados que vinham do Reino Congo. Então para mim era importante passar por ali, para saber desse caminho do meu povo e do Reino, do qual faço parte. Era importante saber dessa andança”, completa.
A vida em São Tomé e Príncipe para Yannick era uma questão da naturalidade, da nacionalidade e também uma maneira de lidar com as construções européias da realidade. “Por direito e por escolha, eu escolhi ser santomense, sou congolês, mas sou também santomense”, ressalta.
Em São Tomé e Príncipe, Yannick aprendeu o português no dia a dia, como ele mesmo conta, pois tinha “que se virar”, para as entrevistas, pois seu trabalho de música exigia muitos contatos, “e ou aprendia o português ou aprendia o crioulo. Aprendi o português”.
Nessas contatos para desenvolver seu trabalho musical, Yannick chegou ao Centro Cultural Brasileiro da embaixada brasileira em São Tomé e Príncipe. Yannick explica que havia um programa de incentivo de trazer artistas do Brasil para lá e de enviar artistas de São Tomé para o Brasil. “Todos do Centro Cultural me diziam que tinham que levar meu trabalho mais além. Aí a embaixada brasileira me ofereceu esta oportunidade pela primeira vez em 2014”, relembra. “Com isso eu vim e fiquei três meses e muita coisa aconteceu, até gravei um disco”, completa.
Em 2015, Yannick retorna para o Brasil para outra temporada de três meses e em 2016 chega a Juiz de Fora para ficar um ano com uma bolsa de estudo em conservatório musical. “Nesse período eu estudava muita, gravava e tocava um pouco em pequenas apresentações. Meu foco era estudar”, explica.
No retorno de Juiz de Fora para São Tomé e Príncipe, Yannick passou por Cabo Verde, onde teria algumas apresentações. Seus amigos de lá começaram a perguntar para ele se havia conhecido a Avenida Paulista. Yannick respondeu que não. Os amigos insistiram “como que você foi ao Brasil e não conheceu a avenida Paulista, você não foi para o Brasil”. Essas perguntas estavam acontecendo, porque naquela época estava passando uma novela brasileira que estava fazendo muito sucesso e a avenida famosa da capital paulista era chave na na história.
“Eu já tinha ouvido muito falar de São Paulo. Falei para mim mesmo, quer saber tenho que conhecer São Paulo, eu estava com dinheiro, comprei passagem na mesma semana e voltei”, conta Yannick. Primeiro ele foi para Minas Gerais, pois tinha lá uma base.
A ideia de Yannick era ficar em São Paulo por três meses e voltar. Esse tempo se transformou em sete anos. Em São Paulo ele fez shows no Sesc, tocou em eventos de refugiados e chegou até o Al-Janiah, um centro cultural palestino, com bar, restaurante e um espaço para debates e discussões. Começou a organizar os artistas que, assim como ele, eram estrangeiros e não tinham onde tocar em São Paulo. Criou ali o projeto Gringa Music, que ficou no Al-Janiah até 2019.
Depois de uma turnê na Itália, em 2020, frustrada pela pandemia de Covid-19, na qual teria início bem no momento que foi decretado o lockdown e com isso ele não fez nenhum show. De volta ao Brasil, Yannick se mudou para Bahia, terra natal de sua mulher na época, e ficou lá um tempo com ela e os filhos até que em nova empreitada veio para São Paulo para buscar um espaço para estabelecer o Gringa Music. Foi assim que surgiu o Centro Cultural Afrika, que funciona desde janeiro de 2022, no centro da cidade de São Paulo.