Sopa Solidária no meu Musseque

Evento criado por dois escritores angolanos quer desenvolver o espírito filantrópico e agir nas lacunas que o poder público deixa em locais de grande vulnerabilidade

Por Redação.

O escritor Beni Dya Mbaxi com as crianças em Cazenga.

Beni Dya Mbaxi e Henrique Sungo são escritores nascidos em Angola. Beni vive na capital angolana e Henrique em Londres. Juntos eles tiveram a ideia e começaram a desenvolver a “Sopa Solidária no meu Musseque”, projeto no qual com apoio de mais amigos e voluntários distribuem alimentos na periferia de Luanda.

Esta já é a segunda ação do evento, que aconteceu no dia 1º de outubro, no bairro Cazenga na província de Luanda, um dos maiores bairros da capital. Henrique Sungo destaca a importância do projeto Sopa Solidária no meu Musseque. “Este projeto tem uma importância tremenda, ele vem minimizar a escassez de víveres existente em Angola. Estatisticamente é um país onde o problema da fome é gravíssimo e o estado tem sérios problemas para o combater. Logo, nós viemos com este projeto para ajudar a tapar os furos existentes. Muitos voluntários nos ajudam e eu sou o responsável por conseguir o apoio financeiro de instituições e pessoas para realizar a Sopa Solidária no meu Musseque. Este é o segundo ano e tem muita gente no exterior do país interessada a ajudar”, completa.

Crianças no momento de alimentação no evento.

Nesta ação mais recente mais de 100 crianças do Cazenga receberam alimentação, participaram de brincadeiras e jogos infantis e ainda ganharam presentes. No dia 6 de outubro, aconteceu um complemento desta segunda ação com a entrega de materiais didáticos à escola de educação infantil do Cazenga.

Beni Dya Mbaxi ressalta que “nossa intenção é desenvolver o espírito filantrópico aos mais novos, é dando e recebendo que está a simplicidade das coisas. Além de levar o alimento, brincamos com as crianças e procuramos celebrar o momento, a interação com as crianças faz seguir vários momentos mágicos”, completa.

Entrega dos materiais diáticos.

Henrique Sungo ressalta que a intenção é oficializar esse projeto. “Queremos criar várias atividades dentro de um centro com variedades distintas de formações profissionais, aulas de línguas nacionais e estrangeiras, bibliotecas, aulas de peças artesanais e estímulos culturais”, completa.

Além de Beni e Sungo, o Sopa Solidário no Meu Musseque ainda tem o apoio de amigos angolanos dos dois escritores: Tata Nsango, artista plástico e escritor; Cláudio Raul, influenciador literário e colunista e Francelmo Francisco, influenciador e agente literário.

Beni ao centro com Cláudio Raul, (esq.) e Henrique Sungo (dir.) na entrega dos materiais

Musseques

Luanda, com quase 10 milhões de habitantes, um terço da população de Angola, viu sua infraestrutura ficar defasada em relação ao vertiginoso crescimento urbano, resultado do êxodo rural. O aumento da população gerou bairros informais, os musseques, espraiados horizontalmente, sem quaisquer plano de ocupação, que gravitam em torno do centro urbano.

Musseque, nome que deriva de uma língua local “Kimbundu” que significa terra vermelha, é como são chamados os bairros periféricos suburbanizados, ou de urbanização progressiva, que podem ser classificados em ordenados – passíveis de se ordenar com instrumentos de ordenamento do território, ou desordenados – de difícil ordenamento face a sua densa e caótica ocupação. Com a pandemia da COVID -19 redobram-se as preocupações face a excessiva densidade populacional e falta de saneamento básico.

Os musseques quase sempre foram espaços de exclusão sócio espacial, desde do séc. XVIII quando da primeira configuração urbana da cidade. As famílias autóctones antigas viviam em musseques nas margens do velho centro da cidade, onde as igrejas desempenhavam um papel de conexão e junção, como por exemplo a Igreja do Carmo e a Igreja da Nazaré. Eram musseques ordenados com vias em terra batida e de traçado regular.