Não é deste jeito que se criou o mundo!

Por Beni Dya Mbaxi, Angola

Uma vez, um velho sábio das terras das Lundas, olhou para mim. Pessoal, aviso que foi um olhar penetrante, limpou a garganta e organizou as palavras, falou: “nós, Lundas, já cá estivemos antes de muitos, já sabemos muitos segredos da vida antes deles chegarem, e ensinarem os seus pobres segredos”. Fiquei estático alguns minutos, não é fácil perceber pequenas frases de mais velhos, um africano na nossa cultura, para nós, africanos, um velho, não é apenas uma pessoa que a vida lhe rouba o tempo dia pós dia. Os mais velhos representam a sabedoria, a experiência de longos anos e o conhecimento dos segredos da vida. Por isso, parei no tempo. Lembrei da arte Sona, que pertence ao Povo Tchokwe. Vocês sabiam que na arte Sona, existe uma história interessante para o princípio do mundo, sei que deves estar a se perguntar, princípio do mundo? — Mas, a bíblia diz tudo! Não é bem assim, para o povo Tchokwe, o mundo tem uma outra criação através de uma arte Sona, conhecida como Kalunga, onde à direita aparece a lua e, no lado esquerdo, o sol, por cima Deus e por baixo o homem.

A arte Sona tem um valor cultural muito forte, ensina situações da vida, as histórias presentes na arte dos desenhos na areia faziam parte da forma mais expedita dos mais velhos da corte Tchokwe, conhecedores dos Sona e da sua execução, partilharem as suas crenças e muitos ao longo da tradição oral, que incluem; provérbios, fábulas e jogos…

O mais velho estava furioso, apertava os dentes, lhe corria a correnteza do rio Kwanza, ainda disse que os quinhentos anos de colonização não conseguiu apagar tudo que estava em nossos sangues, e ainda tem esperança de voltar a ver as pouquíssimas aldeias, que restaram a voltarem aprenderem com os Sona, porque os miúdos de ontem, hoje, são idosos e acredita que restou alguns ensinamentos dos mais velhos daquele tempo.

Terminou o seu discurso em língua Tchokwe dizendo: — “Wa fula umbu kexi kwenda unyimenyime”. Que quer dizer em português: “Quem cava armadilha-buraco não deve fazer marcha atrás”.

A lição é: “Quem faz mal aos outros anda sempre com desconfiança”.