Manifesto pela Língua Portuguesa na Ciência

Documento foi apresentado por pesquisadores no Festival Internacional Literário de Óbidos

Por Redação, Lisboa.

A valorização e o fomento da utilização da língua portuguesa nas pesquisas científicas motivou a elaboração de um manifesto impulsionado no Festival Literário Internacional de Óbidos (FOLIO) de 2022. O “manifesto pela defesa de uma língua de culturas e de ciência, um combate renovado pela justa aceitação da língua portuguesa na produção de bibliografia científica”, é de autoria dos pesquisadores e docentes Regina Brito, Luísa Paolinelli, José Eduardo Franco, Carlos Fiolhais e Raquel Varela. A motivação parte do pressuposto de que a produção científica tem como base a utilização de referências de autores de língua inglesa, hegemonicamente. 

Dentre as justificações para a elaboração desse documento estão o fato de o espaço linguístico da língua portuguesa ter se afirmado e se consolidado nos últimos anos como uma das línguas globais (é a sexta língua mais falada do mundo e a mais falada no hemisfério Sul), e de que a valorização da diversidade linguística global passar pela defesa da língua portuguesa, não apenas como língua de culturas e de pensamento, mas também como língua de ciência. 

De acordo com o manifesto, o português sempre foi uma língua de conhecimento. O documento propõe a valorização da língua portuguesa na produção científica, maior investimento e valorização das traduções como meio de diálogo, conhecimento e aproximação entre os povos e culturas, permitindo o reconhecimento da sua diversidade. O manifesto  apela, ainda, “às entidades competentes das sociedades e estados usuários da língua portuguesa nos vários continentes que tomem medidas políticas de salvaguarda e de promoção da língua portuguesa como língua de culturas e de pensamento e, sobretudo, como língua produtora de conhecimento”. 

O manifesto foi apresentado no dia 13 de outubro em uma mesa de debate e está disponível online para assinaturas.

Sobre o FOLIO 

Escritores, leitores, artistas, músicos, livros e letras reúnem-se desde 2015 no FOLIO, que se realiza, este ano, até o dia 22 de outubro, (12 a 22 de outubro), na cidade de Óbidos, Portugal. O evento aposta na internacionalização, mas também no envolvimento das comunidades locais.

O programa do festival costuma ser extenso: oficinas, contação de histórias, concertos, apresentações de livros, conferências, conversas, mesas-redondas, projeções de filmes, cursos, exposições e entrevistas, com convidados de várias partes do mundo. 

O FOLIO 2023 trará nomes conhecidos como o do cantor brasileiro Ney Matogrosso, o romancista e ensaísta inglês Geoff Dyer, o escritor cubano Leonardo Padura, o escritor espanhol Jorge Carrión e a escritora argentina Mariana Enriquez.

O festival foi idealizado por José Pinho, livreiro, administrador da Ler Devagar e um dos fundadores do projeto Óbidos Vila Literária e do FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, falecido em maio deste ano. 

A edição de 2023 celebra António Manuel Couto Viana, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny, Mário-Henrique Leiria, Natália Correia e Urbano Tavares Rodrigues. 

Dentro da programação do festival está a mostra FOLIO Ilustra, que tem como um dos pontos de partida para a sua criação o risco de as livrarias independentes serem obrigadas a fechar as portas por não terem como competir com as grandes distribuidoras de livros, como a Amazon. A mostra surgiu de um desafio feito por sua curadora Mafalda Milhões dirigido a 69 ilustradores a completarem a frase: “Na minha livraria eu…”. A esse número já se juntaram mais quatro ilustradores. A ideia foi escolher um nome e um endereço para uma livraria e desenhar um livreiro. Além de ilustradores portugueses, participam franceses, italianos, brasileiros, castelhanos e canadenses. As ilustrações que vão decorar a Galeria Nova Ogiva podem simbolizar livrarias que já encerraram.