As poderosas vozes africanas

Documentário reúne oito mulheres de cinco países da África que compartilham seus sentimentos e vivências como migrantes

Por Marcelo Ayres, São Paulo.

Suzana, Fatoumata, Dalia, Pindi, Hortense, Marie, Glória e Louise vem de Angola, Costa do Marfim, Sudão, República do Congo e Camarões. Elas são as personagens do documentário Vozes e Olhares – As poderosas joias da África. Nele elas compartilham, por meio de suas histórias e memórias, as experiências vividas ao migrar para o Brasil.

Esta é a segunda etapa do projeto Vozes e Olhares promovido pela Missão Paz, na cidade de São Paulo, que desenvolve trabalhos com a população de migrantes e refugiados. O processo contou com uma oficina de storytelling na qual as personagens do documentário pensaram todo o roteiro e o que elas gostariam de falar. Além disso, elas aprenderam a manusear os equipamentos de áudio e som para melhor se integrar com as gravações. A produção e edição do documentário ficou a cargo da Fabulário Filmes.

Clarissa Paiva, uma das coordenadoras do projeto, explica que “isto foi uma parte muito importante do processo da construção conjunta e com total liberdade para que elas falassem o que quisessem e compartilhassem tudo isso com o público, e não mais somente dentro da Missão Paz, para que isso ficasse como um registro para as futuras gerações”.

Na primeira etapa do projeto Vozes e Olhares, como explica Clarissa, a situação das mulheres migrantes foi abordada de forma mais densa, tratando das questões relevantes, e necessárias serem lembradas sempre: a fome, a guerra e a discriminação. No “As poderosas joias da África”, segundo Clarissa, foi escolhida uma narrativa mais sensível e que mostrasse outro lado desta história. A fortaleza destas mulheres dentro da tradição da oralidade.

Clarissa conta que “grande parte das mulheres migrantes estão sempre na linha de frente no processo de mobilidade humana e os desafios para elas são sempre maiores, assim como a vulnerabilidade e a violência”. Além disso, as mulheres migrantes no Brasil são influenciadoras em suas comunidades e na comunidade de acolhimento.

“Para nós enquanto Missão Paz e também como indivíduos é muito importante que se conheça a história de nosso país, nessa conexão do Brasil com o continente africano, e assim, entender as histórias e narrativas destas mulheres, os contextos históricos e políticos, que fazem com que estas mulheres migrem”, completa.

Clarissa ressalta que é necessário lembrar que “o continente africano é muito rico e que ele é não somente o que a mídia de massa e a história branca trazem para nós, de que é um lugar de pobreza extrema e muita vulnerabilidade”. “Claro que sabemos que isto ainda permeia a África, no entanto tem muitas coisas maravilhosas e incríveis que precisamos lembrar que existem e apresentar para que as pessoas possam conhecer”, completa.

Oficina de storylelling para o desenvolvimento do documentário.

Processo contínuo de acolhimento

A Missão Paz é um braço social da igreja católica ligado a Congregação Scalabriliana que atua em mais de 32 países com a população de migrantes e refugiados. Em 2013, dentro do Centro de Estudos Migratórios surgiu o evento Vozes e Olhares Cruzados, para promover um encontro entre os migrantes da cidade de São Paulo. Era um momento para que eles pudessem compartilhar suas trajetórias, fazer seus desabafos, compartilhar aquilo que eles estavam vivenciando ao migrar para o Brasil. Um momento dedicado a eles dentro da instituição.

Clarissa conta que, na época do evento, se decidiu gravar estes depoimentos e compartilhar na página do Facebook da instituição. Esses encontros anuais seguiram até o ano de 2018.

No ano seguinte, veio a ideia de transformar em um projeto, e o nome foi trocado para  Vozes e Olhares. No entanto, com o auge da pandemia da Covid em 2020, todo o processo de apoio aos migrantes foi focado para a atuação na linha de frente, como, por exemplo, na entrega de cestas básicas. De acordo com Clarissa, só depois da flexibilização nas condições de distanciamento social foi possível levar adiante a pauta da feminilização na migração.

Assim foi elaborado um projeto de videocartas, o qual consistia em uma série chamada “Mulheres migrantes, mulheres refugiadas: a desafiadora realidade para a mulher que migra“, onde foram apresentadas as realidades de três mulheres de nacionalidades diferentes: Filipinas, República do Congo e Venezuela, muito atuantes no Brasil pelas mulheres migrantes de todos os lugares.

Saiba mais

Assista ao documentário Vozes e Olhares – As poderosas joias da África

Conheça mais sobre a Missão Paz

Assista a série Mulheres migrantes, mulheres refugiadas: a desafiadora realidade para a mulher que migra