Atacante lidera os Palancas Negras rumo às quartas de final de Copa Africana de Nações e está na briga por prêmios individuais
Por Lucas Ayres
Antes de tudo: Gelson Dala tem 27 anos. O “menino” que o título faz referência é em alusão à maneira em que o atacante era visto e chamado pelo futebol africano, uma eterna promessa de Angola. Isso até a Copa Africana de Nações.
Na CAN 2023, o camisa 10 dos Palancas Negras tem jogado à altura das expectativas, e lidera o ataque de uma das duas únicas seleções dos PALOP nas quartas de final da competição africana.
O desempenho do atacante, aliás, tem sido tão bom que ele já é colocado como um possível candidato a craque da competição, caso a seleção angolana avance, ao menos, até as semifinais.
Com quatro gols marcados, Dala é o artilheiro de Angola na Copa Africana, e o vice-artilheiro da competição no geral, atrás apenas de Emilio Nsue, que tem 5, mas que parou nas oitavas com a Guiné Equatorial.
Além disso, é líder do ranking da CAN 2023 em gols + assistências, com cinco, um dos quatro jogadores que mais acertam chutes no gol por jogo (1,5) e um dos cinco que mais dão passes-chave (passe para uma finalização ou assistência – 2,5), segundo o SofaScore.
Inclusive, de acordo com o mesmo site de estatísticas, o atacante é quem tem a melhor nota média do torneio (8,0) e que coleciona duas das três melhores avaliações em uma só partida: 9,7, a maior, contra a Namíbia, e 9,0, contra a Mauritânia, a terceira maior.
As duas partidas foram justamente as que Dala fez os seus quatro gols, anotando dois em cada. Contra Mauritânia, abriu o placar e depois desempatou o jogo nos 2 a 1; contra a Namíbia, já nas oitavas de final, um desempenho de proporções épicas, fazendo os dois primeiros gols da partida num momento em que os angolanos jogavam com um homem a menos após a expulsão do goleiro Neblú, ainda aos 17 minutos do primeiro tempo.
Se o desafio coletivo de Angola será enorme nas quartas de final, contra a Nigéria, o desafio individual de Dala será maior ainda.
Não bastasse o peso de manter o alto desempenho e o poder decisão, o camisa 10 dos Palancas fará uma espécie de duelo individual contra Victor Osimhen, centroavante das Super Águias e do Napoli-ITA e atual detentor do prêmio de Melhor Jogador Africano.
O que deixa os torcedores angolanos otimistas é que entra em campo não o menino Jacinto Dala, mas o atacante Gelson Dala, o craque que está todo mundo de olho.
Nascido em Luanda 1996 como Jacinto Muondo Dala, o jovem se tornou “Gelson” por aqueles apelidos de bairro, por se parecer com um morador da vizinhança. Quando começou nas categorias de base do 1º de Agosto — um dos principais clubes do país e base da seleção angolana — já tinha a alcunha oficializada.
Na soma de seu talento com a experiência compartilhada por seu irmão mais velho, Elísio, que foi jogador do “D’Agosto” — o irmão mais novo, Melono, atua hoje em dia pelo clube angolano —, Gelson Dala iniciou sua carreira profissional logo cedo, entre os 16 e 17 anos, em 2013.
Tão precoce quanto o seu início foi a maneira em que explodiu na carreira. Em 2015, aos 19, estreou na seleção nacional e logo anotou dois gols na goleada sobre a República Centro-Africana; em 2016, tomou de assalto o Girabola, campeonato nacional angolano, conquistando o título com o 1º de Agosto, o prêmio de melhor jogador e a artilharia, com 23 gols — a segunda maior da história da competição.
O desempenho de Dala, claro, gerou muita expectativa em torno do seu potencial. Aos 20 anos, já era colocado como a maior revelação do futebol de Angola em pelos menos dez anos. Tanto que não demorou para que fizesse um caminho tradicional para jovens jogadores angolanos, e fechou com o Sporting, de Portugal.
Inicialmente contratado para a equipe B dos Leões, o atacante não conseguiu deslanchar na carreira internacional. Jogou apenas duas partidas pela equipe principal e passou por uma série de empréstimos entre 2018 e 2020 até fechar em definitivo com o também português Rio Ave.
Nesse meio tempo, atuou na Copa Africana de Nações de 2019 e entrou em campo não só como uma das revelações da sua seleção, mas de toda a competição, até pelo bom desempenho nas qualificatórias. No fim, não anotou nenhum gol e os Palancas Negras não passaram da fase de grupos.
A desilusão da CAN 2019 e o momento pouco inspirado no futebol português chegaram a tirá-lo das convocações para a seleção, que não conseguiu se classificar para a edição de 2021 (disputada em 2022) da Copa Africana.
O tempo, porém, e novos ares fizeram bem à Gelson Dala. Transferido para o Al Wakrah, do Catar, em 2021, iniciou uma recuperação na carreira. Aos 25, mais experiente e rodado, passou a atuar mais como um meia-atacante e se reencontrou dentro de campo. Tanto que anotou 19 gols e distribuiu 3 assistências em 28 jogos em sua primeira temporada.
No ano seguinte, mais 15 gols e 4 assistências em 22 partidas. Na atual temporada, 5 bolas na rede e 2 assistências antes de desembarcar na Costa do Marfim.
A “casca” adquirida no futebol catari foi essencial para o desempenho de Dala na CAN 2023. Mais completo, experiente e ciente da responsabilidade, o camisa 10 conseguiu se transformar num atacante completo, uma referência técnica dos Palancas, atuando mais pela esquerda e criando jogadas partindo para o centro do ataque.
Resta saber se a evolução será suficiente para enfrentar a forte seleção da Nigéria. Ao menos a equipe de Angola que pode contar com seu craque e, quem sabe, possível herói.