Representantes dos povos indígenas defendem que os investimentos sejam geridos por eles mesmos, por direito e por conhecimento de causa
Por Nany Vaz, Cabo Verde, direto de Dubai
A Aliança Global das Comunidades Territoriais – AGCT, plataforma dos povos indígenas que integra ONGs de países com vastos espaços de florestas tropicais, como por exemplo, República Democrática do Congo, Brasil, Peru, Equador e mais 20 países apresentou durante a COP28 no Dubai, um relatório que analisa os fundos climáticos que prometem investir diretamente nas comunidades indígenas. A representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB, organização membro da AGCT diz que os governos desses países têm ignorado o papel que os indígenas têm na conservação das florestas. Cristiane Julião vai mais longe, acusa esses governantes de usurpação dos fundos climáticos que devem ser direcionados e geridos pelos povos indígenas.
“O que a gente está trabalhando são as ideias mais efetivas. Só quem é dono da sua casa é que sabe o que se passa ali. Então a gente tem noção e a dimensão sobretudo, do que se precisa para se resguardar e respaldar sobre os nossos territórios. Que essa proteção ambiental está clara e evidente nos territórios indígenas. Primeiro das nossas lutas é essa regulação fundiária, a gente fala do acesso e garantia de educação, saúde, moradia, segurança são direitos fundamentais. A gente parte a partir desses pequenos projetos que sai do território à situação macro. É esse fluir de demandas que sai do território que chega na APIB e da APIB volta para o território, que a gente vem se conformando e consolidando as nossas ações e políticas públicas, mas a gente precisa que esse financiamento chegue até nós”.
Disponibilizado pelo Banco Mundial, o fundo destinado aos povos indígenas deve ser gerido e canalizado diretamente para eles. “porque a desconfiança que se coloca, que a gente não vai conseguir dar conta é, justamente por quem não quer perder a mão cheia. Fica condicionando, fica chantageando, fica assediando. Na verdade, eles têm medo de perder esse poder, que eles se colocaram e que se mantem claro, desse controle social sob os povos indígenas. Tudo para não garantir os nossos direitos” afirma Cristiane Julião. A participação da Aliança Global das Comunidades Territoriais na COP28 está focada precisamente no sentido de sensibilizar doadores e os que tem poder de decisão à reconhecerem o direito que os povos indígenas têm de decidir o futuro dos seus territórios. O que está em jogo, esclarece a porta-voz dessa aliança, Cristiane Julião, “são mais de 900 hectares de florestas, e a vida de mais de 35 milhões de pessoas. Só um habitante da floresta conhece a sua necessidade” assegura a representante da APIB.