As ações vão da troca de tecnologia à formação de professores e de profissionais de TI
Por Marcelo Ayres, São Paulo.
Desde o primeiro governo do presidente Lula (2003 – 2006) o Brasil adota uma posição de aproximação e de intensificação de ações em conjunto com os países da Comunidade de Países da Língua Portuguesa.
Moçambique é o principal parceiro brasileiro em ciência e tecnologia na África. É também o país com o maior número de projetos em conjunto com o Brasil no âmbito do Programa de Cooperação em Matéria de Ciência e Tecnologia – PROÁFRICA.
Estas ações vão desde a capacitação de professores universitários nas diferentes vertentes da TI a treinamento de técnicos de informática e de montagem de redes de acesso à internet de alta velocidade. Muitas são desenvolvidas de forma direta pelos órgãos governamentais de cada um dos países ou por organizações ligadas aos ministérios envolvidos, como é o caso da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa – RNP aqui do Brasil e sua equivalente em Moçambique a MoRENet – Rede de Educação e Pesquisa de Moçambique.
O trabalho destes agentes acontece em diversas áreas que vão desde a criação de acessos ultravelozes, passando pela segurança cibernética e a telessaúde. Esta parceria acontece desde 2013, quando os ministérios de Ciência e Tecnologia dos dois países firmaram um acordo bilateral entre estas duas redes acadêmicas.
A cooperação foca-se em três eixos: Boas práticas em gestão e governança; Capacitação em TI e Informações técnico-operacionais. Dentro destes pontos estão por exemplo: a implementação de políticas de utilização de softwares nas universidades, treinamento em instalação e manutenção de equipamentos de roteamento e transferência de tecnologia para o acesso a redes de alta velocidade.
Todo este intercâmbio permitiu que, desde o início da parceria, até 2019 a MoRENet consolidasse sua rede e levasse a internet para 59 universidades, 33 centros de pesquisa e ainda ampliasse o alcance de acesso para as escolas de ensino técnico profissional. Atualmente são 160 unidades participantes da rede acadêmica de Moçambique.
Pilar Almeida, das Relações Internacionais da RNP, ressalta que o idioma foi um catalisador das ações, “o fato de falarmos português permitiu um alinhamento imediato entre as equipes e uma fluidez instantânea”, completou. Além disso, ela destaca que o aproveitamento nas capacitações foi muito grande por conta do idioma, pois o foco ficava somente na questão do aprendizado.
A Escola Superior de Redes (ESR), unidade de capacitação da RNP, chegou a formar 2.500 alunos, por meio de cursos presenciais no polo de Maputo, capital de Moçambique, e em turmas por transmissão online do Brasil para Moçambique.
Em 2018, foi a vez do curso de Formação em Segurança Cibernética ser levado até Maputo e oferecido a 50 técnicos do governo de Moçambique também no modo presencial e online. O conteúdo do curso tratou de conceitos básicos em segurança da informação para serem implementados nas organizações dos participantes tanto no acesso à MoRENet como em suas próprias redes corporativas.
Na sequência aconteceu o lançamento do núcleo de telessaúde de Moçambique (Telessaúde MZ), que oferece apoio à distância aos profissionais de saúde que atuam em toda extensão do país africano. Sua finalidade é ajudar na prestação de serviços de atendimentos de consultas médicas à população, priorizando os Cuidados de Saúde Primários, que integram ações preventivas e comunitárias.
A estruturação do núcleo contou com a experiência do Telessaúde Rio Grande do Sul, referência no Brasil em teleconsultorias feitas por telefone. A iniciativa tornou viável a participação de moçambicanos nos 50 Grupos de Interesse Especial (SIGs) da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE), em projetos comuns com o Brasil.
Com o início da pandemia da Covid-19, em 2020, o trabalho foi suspenso e em 2021 alguns encontros online foram preparando planos para o retorno. Agora em 2023 as partes estão começando uma revisão dos projetos para garantir sua continuidade.
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