O desastre gaúcho e a política ambiental

Por Cesário Melantonio Neto

A catástrofe ambiental gaúcha demonstra a importância de uma política nacional e internacional voltada para a construção de um futuro verde-digital, adaptadas aos imperativos da sustentabilidade e da digitalização da sociedade moderna. 

Há hoje dois grandes desafios de nossa época: a mudança do clima, com as suas repercussões planetárias e os riscos ligados à tecnologia, desde o desemprego econômico em massa até a militarização da inteligência artificial. 

Uma nova política externa do Brasil precisa estar alinhada ao ecossistema do nosso país de inovação para criar as condições de trabalho que permitam o soerguimento da indústria nacional. A negligência ambiental levou à tragédia gaúcha visto que o desmatamento descontrolado ameaça não só a biodiversidade local, a disponibilidade de água e as comunidades que dela dependem, mas também o equilíbrio climático global. 

Há tempos os cientistas são unânimes em alertar que estamos nos aproximando do ponto de não retorno, que uma vez ultrapassado desencadeará processos irreversíveis comprometendo a capacidade de regeneração da flora e intensificando eventos climáticos extremos por todo o Brasil – como secas severas e inundações enormes, como vimos agora no Rio Grande do Sul, tragédias que poderiam ser mitigadas com políticas públicas ambientais mais robustas e conscientes.

Grandes projetos de infraestrutura, rodovias e barragens, por exemplo, continuam entre os maiores fatores que levam ao desmatamento. É preciso assumir que essas atividades não estão precedidas por estudos suficientes para uma tomada de decisão com base técnica – muitas vezes são definidas a partir de interesses políticos e de setores econômicos diretamente envolvidos – e que aprofundam o processo de desmatamento na região.

Foi o caso gaúcho em que interesses políticos e empresariais se sobrepuseram às considerações ecológicas provocando essa imensa tragédia. Em um estado rico com boa qualidade na educação, saúde e serviços públicos em comparação com outras unidades da Federação mais pobres, ainda é mais grave tal descaso e irresponsabilidade com o meio ambiente. 

Apesar das inúmeras e repetidas advertências de cidadãos, acadêmicos e cientistas o alerta foi ignorado com as consequências que vemos infelizmente todos esses dias na televisão.

Até quando vamos ter de esperar para que o meio ambiente seja mais seriamente levado em consideração com o fim de evitar tais tragédias climáticas.