Por Lina Moscoso, Lisboa.
A angolana Claudete Pinto, 43 anos, tem a vida um pouco parecida em Portugal, por ser também imigrante como Sabrina, negra e mulher, como Elisabete e Sabrina. As histórias de vida são parecidas e elas partilham as mesmas dificuldades diárias. Mulheres, negras e trabalhadoras.
Relativamente ao racismo, Claudete não costuma sentir nenhum tipo de preconceito em Portugal. “Eu não sinto racismo na pele porque aprendi com os próprios portugueses a ser frontal, a não levar pra casa. Aconteceu ali é ali que tens que falar. Tens que confrontar a pessoa e não guardar e aquilo só faz mal. Aconteceu alguma coisa que me deixou indignada eu falo naquele momento”, declara. Claudete passa esse ensinamento para a filha que tem 16 anos. “Ela é mais portuguesa do que eu. Ela tem saber como é a vida. A realidade é essa. É filha de imigrante, sim. Os pais são angolanos, sim. Mas ela nasceu cá. Ela tem a sua liberdade de expressão”, afirma.
Ao contrário das outras, Claudete sente acolhimento. “Eu tento me manter sempre no meu lugar. Tento ver de uma maneira coerente. Eu sou sempre da paz. Acolhimento sim. Se eu vivo cá fui acolhida por eles. Eu nunca senti essa grande dificuldade que as pessoas passam e sentem”, comenta. De acordo com Claudete, as explicações para esse acolhimento estão no fato de ter chegado muito jovem a Portugal e ter feito a vida nesse país. “Eu tenho mais tempo aqui do que em Angola. Eu era estudante. Aprendi o que é trabalhar cá”, no entanto, ela não deixa de reconhecer que é sempre uma grande luta ser imigrante. “São muitos obstáculos. Para estar inserida tens que lutar. Eles (os portugueses) têm que sentir que não estamos lá, mas aqui”, diz.
Como não podia estudar, foi trabalhar
Claudete vive no Barreiro, cidade portuguesa do distrito de Setúbal, há 25 anos. “Cheguei cá na altura de Angola, Luanda, para Portugal para estudar aos 19 anos e quando cheguei vim com visto de turista e naquela altura era preciso ter visto de estudante para ser aceite na escola”. Como não podia estudar, Claudete foi trabalhar. “Comecei a trabalhar em casas particulares a cuidar de idoso. Uma senhora acamada. Eu não sabia a maneira como posicioná-la e nem como fazer a higiene dela, cuidar e tratar”, conta. Foi a filha da idosa que ensinou tudo a Claudete. “A hora de comer, tudo certinho, a medicação foi ela quem ensinou”. A cuidadora trabalhou durante três anos nessa casa. “E foi bom porque ganhei experiência. Como eu era miúda quando cheguei cá, não sabia como trabalhar. Em Angola sempre estudei”.
No fim de três anos trabalhando nessa casa, quando saiu dali, Claudete conseguiu um emprego em um lar de idosos, onde ficou 8 anos trabalhando. “Esse lar é onde eu consegui minha documentação”. Depois de 8 anos, a cuidadora engravidou e foi trabalhar numa pastelaria – onde se vendem doces e salgados em Portugal – no bairro das Amoreiras, em Lisboa. “Depois de três anos ou quatro a trabalhar nesta pastelaria eu preferi parar um bocadinho e perguntar qual foi o meu objetivo quando eu cheguei em Portugal? O que eu queria fazer? Foi então que Claudete voltou a estudar. Foi fazer licenciatura em Serviço Social na Universidade Nova de Lisboa.
No que diz respeito aos transportes públicos, não é diferente com Claudete. Ela mora fora de Lisboa e tem que ir todos os dias para a zona central, na Avenida Almirante Reis. Lá ela trabalha na Santa Casa de Misericórdia de Lisboa. “As dificuldades neste momento têm a ver com os transportes. O barco vai muito cheio. Uma pessoa vai trabalhar bem disposta e volta altamente arrebentada de cansaço”, reclama. Da casa até a estação de barco Claudete vai a pé. Depois pega o barco, entra na linha azul do metrô, mas precisa trocar para a linha verde, que tem estado sempre cheia porque está, neste momento, em obras.
Em termos de habitação, Claudete revela que está bem. “Vivo sozinha com minha filha. Num T3 (apartamento de 3 quartos). Tenho uma casa comprada pelo banco. Vivi muitos anos lá com o pai da minha filha. Quando eu me separei eu vim pra aqui para o Barreiro. Em termos dos preços estão o dobro ou o triplo. A vida em si subiu de maneira catastrófica, mas tenho conseguido gerir”, finaliza.
Continua
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