Fundação Smart City CV quer levar inovação e tecnologia para a população do país
Por Marcelo Ayres, São Paulo.
“Cidade inteligente é aquela feita para as pessoas”, com esse pensamento a engenheira civil Lóide Monteiro, cabovediana especializada em desenvolvimento urbano, criou a Fundação Smart City CV para promover a inovação nas cidades do arquipélago africano, utilizando o conceito de smart city.
O que estimula a Fundação em seu projeto é a “visão de uma smart city que não é aquela de Dubai, por exemplo, com grandes edifícios que só quem possui muito dinheiro tem acesso. Mas sim, uma cidade inteligente para as pessoas, para que elas possam resolver seus desafios diários mais facilmente e de forma sustentável”, diz Lóide.
A engenheira ressalta que o foco da Fundação são as pessoas. “Estamos em um país em que as pessoas não têm muito dinheiro e enfrentam uma série de desafios. Por isso, criamos este conceito próprio de cidade inteligente, para as pessoas e de modo, que seja inclusivo.”
A Fundação conta com três áreas principais: pesquisa e desenvolvimento, para criar as soluções inovadoras para as cidades; incubadora para dar suporte às start-ups que possam vir a surgir dentro da cidade; e de capacitação específica para a atuação nos processos de trabalho no contexto de uma smart city, direcionada a uma formação mais técnica e profissionalizante.
Essa vertente de formação tem muito destaque na Fundação e é direcionada aos jovens e às mulheres. No caso dos jovens o foco é na capacitação profissional dentro de funções necessárias a uma smart city, como, por exemplo, a “internet das coisas”, na qual as máquinas se conversam e as impressões em 3D, para a criação de peças, objetos, ferramentas etc. Além destes aprendizados os jovens também participam de formação em como fazer uma pesquisa e estruturar um projeto de trabalho.
Já com relação às mulheres, o programa está direcionado às questões de vulnerabilidade, autoestima e empreendedorismo direcionado no sentido de iniciar e administrar pequenos negócios. Um exemplo consistiu em uma parceria com um fundo de investimento que disponibilizou “transições digitais” para um grupo de mulheres e elas podiam baixar estes recursos em seus celulares para “pagar” as formações que participassem dentro da academia da Fundação. “A ideia era que as participantes pudessem entender, ver e sentir que a tecnologia não é só uma coisa de pessoas ricas e, assim, promover integração com a parte mais tecnológica da sociedade”, completou Lóide.
Nestas formações foram beneficiadas 200 mulheres e 100 jovens do bairro Safende, que fica na cidade de Praia, capital de Cabo Verde. Esse bairro é considerado um dos piores não só da capital, mas de todo o país pela falta de estrutura, violência e falta de acesso aos recursos básicos de cidadania.
NOS ZONA SMART
Este é o nome, como se fala o português em Cabo Verde, “Nossa Zona Smart”, da primeira cidade smart da Fundação e que será o modelo para a expansão na África. A Nos Zona Smart vai contar, na prática, com todas as soluções que já estão sendo desenvolvidas pela Fundação dentro dos conceitos de inovações e tecnologias de uma cidade inteligente aplicados no dia a dia: infraestrutura de saneamento básico com monitoramento por software, sistema de águas monitorado para evitar o desperdício e poluição, uso de energias sustentáveis como, por exemplo, energia solar e eólica, acesso a agricultura sustentável com utilização de adubos orgânicos e otimização do uso da água, ciclovias e zonas para atividades esportivas e de lazer.
O plano da Fundação em Cabo Verde é de 10 anos e o início das obras de infraestrutura da Nos Zona Smart será em janeiro de 2024. Um ponto que já está sendo desenvolvido e será entregue funcionando já no próximo ano, é a agricultura inteligente. A cidade inteligente da Fundação está inserida perto de uma comunidade que é 95% agrícola, constituída por produtores de pequeno porte. “A ideia é integrar essa comunidade à Smart City CV criando e administrando pequenos projetos de melhoria do plantio, por meio de novas tecnologias e assim poder ter a agricultura feita de forma sustentável”, completa Lóide.
“Teremos ali vários projetos pilotos. Por exemplo: Cabo Verde tem um grande déficit de água, um problema muito sério para o país. Assim, temos um projeto para otimizar o uso da água, já que alguns produtores utilizam o processo de alagamento das culturas e isso gera um enorme desperdício e baixa produção“, afirma Lóide. Foram implantadas novas técnicas de plantio com irrigação e renovação do solo para que esses produtores não utilizem mais o alagamento, otimizando o uso da água, completa Lóide. Além disso, o projeto com os agricultores vai ajudá-los na melhoria da qualidade dos alimentos e promover a venda de forma a não utilizar atravessadores, com apoio de internet, por meio de vendas online, e estimulá-los a trabalhar em cooperativas de modo a trazer mais renda para a comunidade.
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Bairro Smart – Safende em Cabo Verde