Espaço na cidade São Paulo tem como um dos principais objetivos fortalecer os laços culturais entre Brasil e Angola e promover uma reconexão ancestral
Por Marcelo Ayres, São Paulo
A Casa de Angola reúne em um único local uma galeria de arte, um espaço colaborativo de artesanato, moda, livros, discos, música, dança e a culinária. Tudo para trazer a cultura angolana para mais perto dos brasileiros.
Isidro Sanene é um dos fundadores da Casa de Angola e seu principal incentivador e promotor. Formado em artes visuais e letras com pós-graduação em psicopedagogia, Isidro tem grande atuação em projetos culturais.
A Casa de Angola começou a funcionar em 2022. “Eu comecei o projeto da Casa de Angola na pandemia. Na verdade, antes da Casa de Angola eu já fazia vários projetos, pois eu tenho a cultura e arte como meu sacerdócio. Eu levava pessoas para Angola em sistema de intercâmbio cultural, trazia artistas para o Brasil. Eu tenho meu próprio trabalho independente como artista e sou curador. Uma das coisas que me despertou para a criação da Casa foi que o brasileiro não tem referência de Angola. Nós angolanos conhecemos muito mais o Brasil do que os brasileiros conhecem Angola. Eu sinto que a maior parte da população brasileira tem como referência a américa, os EUA. Eu queria trazer uma visão mais ampla de Angola para os brasileiros”, conta.
Isidro vê uma necessidade de existir uma reconexão com a ancestralidade e ele vê na atuação dos projetos e eventos da Casa de Angola essa possibilidade. “A importância deste espaço se dá principalmente porque ele traz uma proposta de reconexão e um dos seus objetivos principais é fortalecer as relações culturais entre Brasil e Angola e do Brasil com o continente africano. A Casa de Angola é uma possibilidade mudança de visão do Brasil sobre a África, sobre as Áfricas, pois aqui, no Brasil, muitos pensam que a África é um único país, quando na verdade é um grande continente com mais de 50 países”, completa.
Nessa troca de experiências a Casa de Angola já recebeu visitas ilustres como o cantor Paulo Flores e o astro do kuduro Príncipe Ouro Negro. Além disso, já promoveu diversas exposições de artistas angolanos e brasileiros afrodescentes.
Diálogo acontece pelo conhecimento
Essa troca que segundo Isidro promove o diálogo e auxilia a aproximação dos povos e das pessoas. “Eu acredito que a Casa de Angola como uma possibilidade. Ela traz esses pontos que eu acredito que é o diálogo e por esse diálogo ela também propõe a cura”, explica. Essa cura é necessária segundo Isidro para quebrar a questão do preconceito. “Eu só vou quebrar essa questão do preconceito, se eu conhecer uma cultura diferente da minha. Eu, por exemplo, cheguei aqui no Brasil como refugiado, e fui “adotado” por uma família japonesa, que me acolheu, me mostrou outros caminhos. Me ajudou a pagar a faculdade, ampliar minhas possibilidades”, conta.
“Esse convivência, me fez gostar e entender o Japão. A cultura japonesa é uma coisa que me encanta, antes de conhecer esta família não era assim, mas as coisas mudaram, pois eu tive esse contato, esse acolhimento e é isso que eu acredito que precisa acontecer aqui no Brasil, acolher a África e suas diferenças”, completa.
Isidro entende que o caminho mais fácil para humanizar o mundo é arte, a cultura. “Porque, por exemplo em uma pintura ou escultura eu não vejo quem faz a obra, mas me encanto. Quando eu olho uma obra de arte eu vejo e sinto: nossa que lindo isso aqui e você não sabe quem fez, porque não é a minha preocupação enquanto contemplador, não quero saber quem fez, mas sim sentir o que ela me transmitiu, sentir algo, uma sensação e isto importa e não quem saber quem fez, para saber se isso vai me tocar de alguma forma”, reflete o coordenador da Casa de Angola. Para ele, “antes de qualquer tipo de arte, de proposta, a cultura, ela existe justamente para nos ajudar a nos entendermos como sociedade, nos entendermos como pessoas humanas”, completa.
Conheça mais sobre as atividades da Casa de Angola pelo seu site – casadeangolasp.com.br.