Para o cartunista Miguel Paiva, desenhar nos períodos antidemocráticos sempre acaba sendo uma válvula de escape
Por Redação.
O cartunista Miguel Paiva reproduziu os quatro anos de governo Bolsonaro no Brasil em uma mostra de charges que esteve em cartaz em Lisboa, enytre os meses de junho e agosto deste ano, no Espaço Talante, na Lx Factory. As obras fazem parte da coleção “O Brasil Redesenhado”. A exposição é resultado do trabalho do cartunista divulgado na mídia Brasil 247.
Miguel Paiva foi convidado pela Galeria Talante para expor em Portugal. “Eu vi que no espaço cabiam 15 gravuras. Pus as 15 e fiz numa parede uma miscelânea de originais”, conta. O resultado foi uma colagem sem critério, algo mais descontraído. Para o cartunista, a exposição não chega a contar uma história, mas mostra o que aconteceu no período do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Miguel Paiva, que denomina o término do governo Bolsonaro de “fim do pesadelo”, revela que essa é uma pequena amostra do que ele fez num período tão difícil da política brasileira. “Eu acho que o que eu destacaria dessa exposição é esse momento grave que nós vivemos no país. O que nós escapamos, o que nós nos livramos. Eu acho que isso é essa sensação de alívio. O que fica disso tudo aqui é mais ou menos isso”, revela.
Sobre levar a mostra para o Brasil, Miguel Paiva comenta que as pessoas já pediram para que “Brasil Redesenhado” esteja em cartaz no Rio de Janeiro, mas o cartunista diz que precisaria de um espaço como o da Galeria Talante para dispor as obras.
Em Lisboa, cidade turística e intercultural, a exposição tem sido vista por muita gente de vários países. “Algumas pessoas entendem do que se trata, tem gente que aprende, que descobre. Tem gente que concorda e gente que discorda. É muito interessante isso. Ver essa miscelânea de público”, afirma o artista.
Arte como crítica
De acordo com o cartunista, desenhar nos períodos antidemocráticos sempre acaba sendo uma válvula de escape. “Tem gente que diz que os governos ditatoriais são inspiradores porque os cartunistas vivem melhor. Mas não acho. Eu acho que democracia é o melhor estado sempre para você produzir qualquer coisa”, comenta. Relativamente a utilizar a arte como instrumento de crítica e questionamento, segundo Miguel Paiva, é um papel que os artistas têm que continuar tendo.
Segundo ele, o cartoon sempre foi a maneira subversiva de narrar a verdade dos fatos ao mostrar o avesso das coisas, na medida em que tem a capacidade de descobrir desvios para revelar os fatos. Está aí a explicação para o incômodo que é causado pelos cartoons nas pessoas autoritárias.
O cartunista é muito conhecido no Brasil. Aos 73 anos, Miguel Paiva tem uma longa carreira com personagens famosos, como Radical Chic (que virou programa da TV Globo, estrelado por Andréa Beltrão), Gatão de Meia-Idade (que ganhou um filme protagonizado por Alexandre Borges) e Chiquinha, entre outros.