Tiniguena aposta na capacitação de mulheres rurais e agricultoras para fomentar a soberania alimentar, o exercício da cidadania e a igualdade de gênero
Por Marcelo Ayres.
As mulheres rurais e agricultoras da Guiné-Bissau são a maior força de trabalho no campo e como em todo mundo são as que estão na linha de frente para cuidar da família, principalmente das filhas e filhos e as mais vulneráveis e expostas a violência.
É neste contexto que a Tiniguena, uma Organização Não Governamental (ONG), que existe a mais de 30 anos no país africano de língua portuguesa, atua com o principal objetivo de promover o desenvolvimento participativo e durável baseado na conservação dos recursos naturais e culturais e no exercício da cidadania.
Nereide Silva coordenadora de comunicação da ONG destaca que a Tiniguena é uma instituição “que preza a soberania alimentar, que preza a capacitação das mulheres, que preza pela igualdade de gênero, então achou-se por bem trabalhar com as mulheres nestas temáticas”, ressaltou.
Engajamento na vida política
A Tiniguena exerce, como conta Nereide, um agrofeminismo. Segundo explica a coordenadora de comunicação, atualmente a Tiniguena desenvolve três projetos de características feministas. Um deles é o projeto Mulheres Rurais que trem como objetivo contribuir para o reforço da democracia participativa na Guiné-Bissau por meio da promoção e do exercício da igualdade de direitos e entre homens e mulheres.
O projeto Mulheres Rurais, está em sua segunda fase. Ele tem como seu objetivo geral, como sua principal função empoderar as mulheres rurais para engajá-las na vida política do país e assim contribuírem para a consolidação da paz e o desenvolvimento. Ele promove também o acesso de líderes e iniciativas de mudança social ao poder político. “É um projeto muito interessante, porque o Mulheres Rurais prepara as mulheres para capacitá-las para uma participação ativa na sociedade”, destaca Nereide.
Agroecologia
Outro projeto ativo é o Agrofeminismo. “Que reforça a igualdade de gênero através da agroecologia liderada por mulheres na África ocidental”, explica Nereide. “Basicamente o projeto tem como objetivo melhorar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres nas zonas rurais pobres da Guiné-Bissau incluindo também o Senegal, Togo e Burkina Faso”, completa. “Especificamente na Guiné-Bissau ele está a ser desenvolvido a em três localidades na zona leste: Quinara, Oio e Bafata. A Tiniguena neste momento está a capacitar cerca de 820 mulheres só neste projeto”, ressalta Nereide.
Segundo Nereide o Agrofeminismo “organiza e orienta grupos de mulheres a nível da aldeia, para fortalecer o seu poder e influência e proporcionar a formação em agroecologia desenvolvendo por meio da promoção de culturas nutritivas que se adaptaram ao longo das gerações para prosperar nas condições locais, sem a necessidade de irrigação ou insumos químicos”, completa. Como explica Nereide basicamente o projeto Agrofeminismo ensina as mulheres, a trabalhar, a cultivar e a vender o que cultivam, sem uso de produtos químicos, ou seja, fazer tudo a base natural”, destaca.
O projeto Agrofeminismo ainda ajuda a estabelecer redes de processamento e distribuição pertencentes e operadas por coletivos de mulheres que revendem diretamente aos consumidores nas áreas urbanas circundantes. “Tudo o que elas produzem, pode ser diretamente para o consumo próprio, mas também a maior parte da produção será para a venda. Elas depois também tem formação nestas áreas de como é que vão gerir o negócio, como é que vão lidar com temática da igualdade de gênero em todas essa situações”, completa Nereide.
Conscientização dos impactos do clima
O terceiro projeto ativo atualmente é o Ação Climática Feminista na África Ocidental. Nereide explica que este é o projeto mais novo da Tiniguena nesta linha de atuação com as mulheres rurais. “Ele tem como prioridade informar e consciencializar a sociedade para os efeitos e impactos socioeconômicos da degradação do meio ambiente e os seus efeitos, na adoção das soluções baseadas na natureza, no saber tradicional e na gestão dos recursos naturais”, completa.
Nereide destaca que o Agrofeminismo e o Ação Climática são complementares e uma evolução de uma para outro. “O Agrofeminismo trabalha com as mulheres e as incentiva a terem uma agricultura saudável sem o uso produtos químicos, e o Ação climática faz tudo isso mais um bocadinho, que é o fator do clima, do tempo”, ressalta. Nereide destaca que é um projeto bem moderno para as mulheres rurais que está sendo implementado nas ilhas da Guiné enquanto os outros estão sendo desenvolvidos no continente.
O projeto Ação Climática Feminista na África Ocidental segundo Nereide trabalha paralelamente a intervenção no âmbito do desenvolvimento local e na inclusão de todos os membros das comunidade com particular atenção ao empoderamento das mulheres e jovens. “Os principais eixos estratégicos da intervenção da Tiniguena neste projeto são o desenvolvimento da agricultura familiar, com base na diversificação e disseminação das boas práticas de cultivo agroecológico, a valorização econômica dos produtos locais agroflorestais e da pesca artesanal. Além da gestão partilhada e inclusiva do património natural comunitário e da biodiversidade”, completa.
Nereide ressalta que o Ação Climática Feminista na África Ocidental “é um projeto que tem todos os componentes do Mulheres Rurais e do Agrofeminismo e mais alguma coisa que é o factor do clima. Esta é a evolução dos projetos ligados as mulheres da Tiniguena, e tudo isso é implementado nas comunidades. Nós vamos às aldeias, vamos ter com as mulheres no habitat delas, com os meios que elas têm, dentro das casas delas para trabalhar com elas estas temáticas e tem funcionado”, finaliza.