Por Beny Dya Mbaxi, Angola.
Ainda lembro quando tinha os meus treze anos de idade, estava na casa da minha avó Marta, mãe do meu pai. Eu na altura, um neto que acarretava confiança da sua avó, estava na cantina de casa, vendíamos de tudo um pouco, em Luanda, o comércio é muito diversificado para os pequenos comerciantes, a minha avó Marta era uma dessas pequenas comerciantes, uma mulher empoderada, o seu esposo trabalhava, neste caso, o meu avô Pedro, mas não se deixava relaxar com aquilo, ela era daquelas que pensava, que a satisfação e o relaxamento só existem, quando tudo depende de ti, ela dependia dela, apenas dela. Naquele dia, a venda corria tranquila, até chegar uma senhora, estranha, quase que ninguém a conhecia no bairro, era a minha primeira vez atendê-la, pediu um, dois, três, quatro e mais latinhas de Bananal, Vodka forte. Não demorou muito, começou a soltar a sua experiência.
— Olha, mulato, sabias que eu já morri? A pergunta deixou-me espantado, mas não dei muita importância. Qualquer um com álcool na mente, fala tudo…Pensei.
— Quando eu morri, estava num lugar branco, bem branco…
Fiquei sério, parei de fazer o que estava a fazer, fixei os meus olhos no rosto daquela mulher, que estava com o cabelo raspado, com os olhos encarnados e roupa masculina.
— Mulato, Deus falou comigo! Falou, e, depois, deu um gole, fez cara feia, devido a vodka forte que bebia, e prosseguiu.
— Ohhh, menina, ohhh, menina…
Gritou ela, imitando Deus. Confesso, naquele momento, fiquei vestido de medo, apeteceu-me correr, mas o corpo ficou parado. Se eu corresse, quem controlaria a nossa cantina? Uma vez, que a minha avó confiava-me cegamente.
— Deus, gritou meu nome, bem alto, fiquei assustada. Imitou outra vez a voz de Deus.
Na verdade, naquele momento, o mais assustado estava eu. Era uma sensação estranha, medo e admiração.
— Deus disse, filha ainda não chegou a sua vez, por isso, tens de voltar…
— Deus falou contigo? Interrompi. Falou, mulato…Respondeu dando outro gole na sua vodka.
O clima começou a ficar estranho, a senhora disse que ressuscitou depois de dois dias na morgue, depois de tudo preparado para o seu adeus, levantou, criou um alvoroço no seu velório, hoje, a família acha ela uma bruxa, por isso, da sua frustração e desamparo, mas lembro que desamparado estava eu naquele momento, um adolescente, atendendo vodka a uma mulher que falou com Deus, morreu por três dias e voltou para o nosso mundo. Passando alguns dias, ganhei coragem, contei tudo para minha avó, a notícia foi se espalhando, no final, quem se pronunciou foi o senhor Paulo, um cliente nosso na altura, apurou a história da senhora, e disse que é sua namorada e vivia com ela. Fiquei admirado. Senhor Paulo vivia com a mulher que ouviu a voz de Deus…