Defender a imigração é lutar por um país mais justo, inclusivo e economicamente sustentável. É urgente combater notícias falsas, são necessárias políticas públicas que promovam a integração e a coesão social. Cabe à sociedade, às instituições e aos cidadãos recusarem as mentiras e defenderem políticas migratórias que respeitem a dignidade humana e fortaleçam Portugal.
Nos últimos anos, o debate sobre imigração tem sido sequestrado por discursos populistas que associam, sem fundamento, a chegada de imigrantes ao aumento da criminalidade e à insegurança. Esta narrativa visa transformar os imigrantes em bodes expiatórios, alimenta o medo e promove a desinformação, ignorando os factos e a realidade social e económica do país.
As recentes declarações na Assembleia da República do diretor Nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, desmontam essa suposta relação que é um dos mitos mais recorrentes da extrema-direita. Segundo os dados apresentados, apesar do aumento significativo do número de imigrantes em Portugal nos últimos anos, a criminalidade violenta tem vindo a diminuir e a percentagem de reclusos estrangeiros tem caído. A realidade contraria totalmente a ideia de que um maior fluxo migratório resulta num aumento da insegurança.
Porque razão, então, persiste este discurso populista? Porque o medo é uma ferramenta poderosa de mobilização política. Em tempos de crise ou incerteza, a estratégia do populismo consiste em criar inimigos internos, identificar um “outro” como a causa dos problemas e apresentar soluções simplistas para problemas complexos.
A realidade, porém, é que a imigração é essencial para a sustentabilidade do país. Portugal enfrenta um envelhecimento demográfico acelerado e uma quebra na natalidade, fatores que colocam em risco o equilíbrio do Estado social e o sistema público de pensões e reformas. Sem um reforço populacional vindo de fora, o país verá diminuir drasticamente a sua população ativa, comprometendo a economia e os serviços públicos.
O impacto positivo da imigração não se restringe ao mercado de trabalho. Os imigrantes são também um fator de diversidade cultural, inovação e dinamização de setores-chave da economia. Segundo os dados oficiais, os imigrantes contribuem significativamente para a receita fiscal e têm um impacto líquido positivo nas contas públicas. Contudo, a extrema-direita e setores conservadores preferem ignorar estes factos e insistir na criação de uma narrativa falsa de caos e insegurança. Recorrendo a dados descontextualizados, e explorando episódios isolados de criminalidade cometidos por estrangeiros, alimentam o preconceito e procuram justificar políticas de exclusão e repressão.
Luís Neves chamou a atenção para o papel que as “fake news” desempenham na construção das percepções públicas sobre a segurança. A forma como a criminalidade é noticiada influencia diretamente o sentimento de insegurança, corresponda ou não a realidade dos números. A cobertura mediática sensacionalista de crimes cometidos por estrangeiros amplifica a ideia de que há uma crise de segurança, quando, na verdade, a grande maioria dos crimes violentos são cometidos por cidadãos nacionais. Estes, por seu turno – como Luís Neves sublinhou – são hoje muito menos do que há umas décadas.
Não é por acaso que esta estratégia de desinformação coincide com o crescimento dos discursos populistas em várias partes da Europa. A imigração é usada como pretexto para justificar políticas autoritárias e repressivas, num movimento que põe em causa os valores fundamentais das democracias liberais. Se a verdade está do lado da imigração, a batalha não é apenas estatística, mas também política e cultural. Defender a imigração é defender um país mais justo, inclusivo e economicamente sustentável. Defendê-la, não só combate estereótipos falsos, mas também contribui para políticas públicas que promovem a integração e a coesão social.
Os desafios levantados pela imigração não podem ser ignorados, mas devem ser encarados com racionalidade e baseados nas evidências. O verdadeiro perigo não vem da imigração, mas sim da desinformação que tenta transformá-la num problema inexistente. Num momento em que o populismo avança e procura explorar o medo e a ignorância, cabe à sociedade, às instituições e aos cidadãos responsáveis, recusarem a mentira e defenderem uma política migratória que respeite a dignidade humana e fortaleça Portugal. A segurança não se constrói com preconceitos, mas com justiça, com transparência e com compromisso com a verdade.
Foto: MIGUEL A. LOPES/LUSA