Povos originários encantam Portugal

Exposição do fotojornalista Ricardo Stuckert revela aos portugueses cenas das comunidades indígenas da Amazônia

Da Redação, Lisboa – São Paulo.

A mãe que amamenta o filho, as crianças que brincam no rio, o ritual da ayahuasca, o arco e a flecha do caçador, o pajé majestoso e a canoa entalhada no tronco são algumas das cenas retratadas pelo fotojornalista Ricardo Stuckert na sua exposição “Povos Originários, Guerreiros do Tempo”, que esteve em cartaz no Palácio dos Anjos, Algés, Portugal durante os meses de maio a julho deste ano.

A mostra é um tributo aos povos originários. Retratando dez etnias, como os Yanomami, os Ashaninka, os Yawanawá, os Kalapalo, os Kayapó, os Pataxó, os Kaxinawá, os Xukuru-Kariri, os Korubo e outros povos isolados, Stuckert destaca a importância daqueles que estão na linha de frente da luta pela preservação dos recursos naturais.

No lançamento da mostra Ricardo Stuckert declarou: “espero que as imagens dessa exposição promovam uma reflexão sobre a importância dos indígenas como os verdadeiros guardiões das florestas. Preservar essas populações e as terras habitadas por elas é hoje uma questão de sobrevivência para todos nós”.

A exposição nasceu do livro de mesmo nome (Editora Tordesilhas/2022), que traz o resultado das expedições à Amazônia. Em sua primeira viagem, em 1997, Stuckert conheceu Penha Góes, uma mulher Yanomami de 22 anos. A foto de Penha, a imagem da indígena de olhos esverdeados, ganhou o mundo e se tornou uma das fotografias mais importantes da sua carreira.

“Passados 17 anos eu tive a ideia de fotografá-la de novo. Demorou um pouco, mas consegui localizá-la e Penha me disse que estava me esperando”, relembra Stuckert. “Chegando na comunidade, me deparei com uma mulher mãe de seis filhos, enfermeira. Ela estudou enfermagem para trabalhar na comunidade”, conta o fotógrafo. “E 17 anos depois eu vejo que poderia ter a oportunidade de fazer um trabalho maior. A história começa com a Penha. Ela que me abriu esse universo tão importante de estar retratando comunidades de povos originários.”

As duas fotos de Penha: aos 22 anos e dezessete anos depois.

Ricardo Stuckert decidiu então assumir uma missão – a de registar de forma mais ampla a vida dos indígenas brasileiros. No fundo, uma maneira de prestar-lhes um tributo e, ao mesmo tempo, torná-los mais conhecidos fora do seu território.

O trabalho correu pelas mais diversas regiões do Brasil, passando pelas comunidades indígenas nos estados do Acre, Amazonas, Alagoas, Bahia e Mato Grosso. “Descobri um universo fantástico. Cada aldeia que visitei foi uma aprendizagem. O modo de viver dos indígenas é fantástico. Eles vivem com simplicidade, com aquilo que a floresta oferece. Têm orgulho de manter a cultura preservada. Ensinam-nos a importância de viver em comunidade, de respeitar e preservar a natureza”, ressalta Stuckert.

Aos 52 anos,  e mais de 30 anos de experiência, Ricardo Stuckert é a quarta geração de uma família de fotógrafos. Já trabalhou para o jornal “O Globo”, do Rio de janeiro e para a revista “Veja”, da Editora Abril.  Foi ao longo de oito anos fotógrafo oficial da Presidência da República do Brasil, nos primeiros dois mandatos (2003 a 2010) do presidente Lula, cargo a que regressou no início de 2023, com a reeleição do político.