Nayola revê a guerra de Angola

Longa de animação inspirado em peça escrita por Mia Couto e José Agualusa recebeu prêmios internacionais

Por Redação.

Nayola na guerra.

O filme “Nayola”, o primeira longa-metragem de animação de José Miguel Ribeiro, retrata o impacto da guerra civil angolana na vida de três mulheres: Lelena (a avó), Nayola (a filha) e Yara (a neta). O cineasta português resolveu adaptar a obra “A Caixa Preta” escrita pelo escritor moçambicano Mia Couto e o autor angolano José Eduardo Agualusa, depois de conhecê-la por meio de um amigo diretor que vive em Angola há mais de trinta anos.

José Miguel conta que o que mais impressionou na peça de teatro foi a dimensão humana das três personagens mulheres e a forma como elas são afetadas pela guerra. Segundo José Miguel, “uma guerra imensa que foi a guerra da libertação – são 13 anos mais 27 anos de guerra civil – foi um percurso enorme de sofrimento do povo angolano”.

Lelena a avó.

Na história do filme, Nayola, em 1995, deixa sua bebê Yara com a avó, Lelena, para procurar o marido desaparecido em combate, durante a guerra civil angolana. Em 2011, Yara é uma “rapper” e ativista dos direitos humanos perseguida pela polícia. Dois percursos paralelos que crescem em duas linhas temporais que não conseguem se encontrar. Duas vidas que refletem um país dilacerado pelas guerras do passado que contaminam o presente.

Yara a terceira geração da família.

Em entrevista José Miguel contou que as ex-colônias sempre foram um assunto marcante em sua vida. Seu pai foi militar das forças de ocupação  portuguesas no período da guerra colonial – como muitos portugueses que não tiveram alternativa e foram obrigados a entrar nessa luta contra as colônias. José Miguel lembra que cresceu vendo as fotos do pai em uniforme militar na Guiné-Bissau.

Ele ressaltou que da mesma forma Angola sempre foi um assunto presente para ele e para os portugueses em geral. Assim quando o cineasta português começou o trabalho do filme fez uma longa pesquisa que durou cinco anos e segundo contou, no lançamento do filme em Portugal, em abril deste ano, ele também leu muitos autores para além de Agualusa e Pepetela, para fazer sua pesquisa pessoal e aí sim entrar eu seu processo criativo.

Nayola recebeu 12 prêmios, um deles, o Prêmio do Público, em 2022, para melhor filme internacional na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no Brasil. Depois da estreia, em junho do mesmo ano, no Festival Internacional de Annecy, na França, a animação percorreu o mundo em seleções oficiais em mais de 30 festivais internacionais. O filme recebeu várias distinções como: Melhor Longa Metragem de Animação no Festival Internacional de Guadalajara no México, Melhor Longa Metragem no Anim’est na Romênia e Melhor Longa Metragem no Manchester Animated Film Festival no Reino Unido.

O longa de animação já esteve em cartaz na França e em Angola. Agora está no circuito comercial de Portugal e em breve virá para o Brasil.

Assista ao trailer de Nayola