50 anos da Revolução, o dia em que a Liberdade ocupou as ruas de Portugal 

Grupo confraterniza nas ruas de Lisboa com a faixa “Liberdade”.
Foto: Victor Valente – Centro de Documentação 25 de abril – Universidade de Coimbra

Numa quinta-feira de abril de 1974, Portugal conquista a sua liberdade depois de 48 anos de ditadura, de fascismo, de censura, perseguição, violência e guerra. Um dia importante não só para o país, mas para os países que ainda eram colônias portuguesas e a partir daí conseguiram sua independência. Também foi um momento de esperança para os países que viviam regimes ditatoriais e de opressão.

Em 1926, Portugal tem um golpe militar, dando fim à I República e num período de dois meses, passaram três chefes de estado, nenhum eleito formalmente. José Mendes Cabeçadas Júnior, Manuel Gomes da Costa e Óscar Carmona, representavam diferentes facções do golpe e não chegaram a um consenso. Carmona assume a liderança, mas outra liderança começa a ganhar espaço como estrategista e arquiteta de uma “Nova Ordem”, este é António de Oliveira Salazar. 

Uma nova Constituição é aprovada em plebiscito nacional, constituindo o Estado Novo e dando início a uma ditadura constitucionalizada que duraria de 1933 a 1974. O Presidente da República, nesta nova constituição, agrega muitos poderes, pode promulgar leis, comandar a política externa do Estado Portugues., nomear e demitir ministros e dissolver a Assembleia. 

Com o passar dos anos, Salazar vai se fortalecendo, construindo uma Portugal à sua maneira, dando nome ao período de “salazarismo”. O período é considerado Corporativista, onde o Estado é o mediador de todas as relações trabalhistas, enfraquecendo os sindicatos. Há muita perseguição aos partidos políticos e opositores, para o regime só existia um partido, o do governo. Os poderes ficam acumulados na mão do líder. A censura é muito forte em todos os setores, na imprensa, na cultura, na vida cotidiana das pessoas. Um nacionalismo e colonialismo muito forte, reforçando a ideia de que era um Império Português. Há um mapa onde o regime colocou os países colonizados dentro da Europa para mostrar que Portugal era grande. E ideias muito conservadores, com o lema: “Deus, Pátria e Família”. 

Organizado por Henrique Galvão: “Portugal não é um país pequeno”, o mapa era distribuído em todas as escolas do país.

Em uma campanha realizada pela organização 50 anos 25 de abril, chamada #NãoPodias, apresenta o que o povo português não era autorizado a fazer, como se reunir em mais de 3 pessoas, não tinham direito a férias pagas, viajar livremente, as mulheres precisam de autorização do marido. Não podiam discordar, beijar em público, se defender, se expressar, votar. Era uma política de total controle da população. Muita resistência foi criada por parte dos comunistas, antifascistas, democratas, trabalhadores, onde muitos passaram a atuar de forma clandestina. 

Para acessar a campanha acesse: https://50anos25abril.pt/iniciativas/nao-podias/

“A Liçao de Salazar” distribuído em escolas no Estado Novo.
Deus, Pátria e Família fazia parte da trilogia da educação nacional.

Importante lembrar que neste período, o regime criou a Casa dos Estudantes do Império em Lisboa (1944), onde reunia alunos das colônias portuguesas que vinham estudar na metrópole. Mas o que o salazarismo não esperava, é que ali a luta anticolonial ganharia força e nomes importantes, que cresceriam em seus países em defesa da independência das suas terras de origem. Na Casa dos Estudantes passaram Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Lúcio Lara, Alda do Espírito Santo e tantos outros. Um espaço de resistência, diálogo e construção de luta. 

Em 1961, os movimentos de libertação das colônias iniciam uma luta armada para pedir a independência. Em resposta, Portugal envia tropas para combater e inicia então a Guerra Colonial, que só terminaria com a Revolução dos Cravos. Ao longo dos anos, Portugal enviou 150 mil homens, sendo 60 mil em Angola, 27 mil na Guiné-Bissau e 55 mil em Moçambique. 

A guerra parecia não ter fim. Muitos portugueses morriam, suas famílias ficavam inquietas. Enquanto isso nas colônias, Portugal matava vilarejos inteiros nas passagens, dizimava a população. Um ataque brutal para os povos que vivem nessas terras. Também é importante ressaltar, que o regime prendeu muitos angolanos, guineenses, moçambicanos que lutavam e os enviaram para o Campo de Concentração do Tarrafal. Portugal também criou campos de concentração. 

Nos últimos anos da ditadura, o custo da guerra tomava 20% do orçamento do Estado português, enquanto muitos passavam fome e necessidades em solo portugues, outros morriam no combate a uma terra que não pertencia a eles. 

O descontentamento com a guerra se inicia dentro das Forças Armadas também, que não viam mais motivo para continuar os ataques. Com isso, inicia o Movimento das Forças Armadas, o MFA, de onde saíram os líderes da revolução. Na noite de 23 de abril de 1974, o MFA se organiza em várias frentes do país, mas principalmente em Santarém e Lisboa, para pedir a rendição de Marcello Caetano, o sucessor após a morte de Salazar (1970). 

O movimento se organiza, vão a uma rádio para organizar os sinais que passariam para os demais de que a revolução estava em curso. A música “Grândola, vila morena” seria o marco, às 00h20 do dia 25 de abril, que iniciava a revolução. O MFA pede para as pessoas não saírem nas ruas na manhã seguinte, mas todos ocupam as ruas, avenidas, cidades, pedindo o fim da ditadura.

Marcello Caetano se refugia no Quartel do Carmo e o MFA cerca. A população se juntou ao movimento para apoiar e defender o que mais queriam, a liberdade. Dentre os portugueses que estavam na rua, se encontrava Celeste Caeiro, hoje com 90 anos, que ofereceu cravos vermelhos aos soldados. Nasce aí então o nome de Revolução dos Cravos. 

População vai para o Largo do Carmo acompanhar e comemorar com os capitães.
Foto: Centro de Documentação 25 de abril – Universidade de Coimbra

No final da tarde do dia 25 de abril, Marcello Caetano se entrega e o movimento assume o período revolucionário, comemorando a liberdade e o início da democracia portuguesa depois de 48 anos de muita opressão. 

Portugal estaria livre de uma ditadura avassaladora que foi muito sofrida para as famílias portuguesas, em especial aqueles que ficaram na linha de frente do combate ao longo dos 48 anos. Um novo país começa a ser criado, também se encerrando os quase seis séculos de império colonial. 

Entre 1973 e 1975, as colônias portuguesas conquistaram suas independências, veja abaixo :

  • 24 de setembro de 1973 – Independência de Guiné-Bissau 
  • 25 de junho de 1975: Independência de Moçambique
  • 5 de julho de 1975: Independência de Cabo Verde
  • 12 de julho de 1975: Independência de São Tomé e Príncipe
  • 11 de novembro de 1975: Independência de Angola
  • 28 de novembro de 1975: FRETILIN proclama independência de Timor (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente -FRETILIN)